Poema Sem Prumo Com A Metalinguagem

Data 02/06/2017 20:15:37 | Tópico: Poemas

O poema é parecido a um parto.
Sintamos a primeira contração
Tocando profundo no coração
Com potencialidade dum infarto
Que dita o momento, a passagem,
Quando o poema já nasce morto
Quando o poema é um anjo torto
Sem prumo com a metalinguagem.

Tem poema que é puro, de fato,
Feto fictício, fantasioso ou não;
Poema precioso, de apreciação;
Tem poema que é puro palato,
Que é imaginativo e só imagem
Deixando a vida mais corante
Impulso compulsório e vibrante
Sem prumo com a metalinguagem.


Nada de um poema eu descarto:
Olhar atento, observo, absorvo
Um pouco de Poe*, do "O Corvo",
De Morrison**, que foi "Rei Lagarto"
Tudo me serve de engrenagem
Que me guia por vários atalhos
Para o coser das colchas de retalhos
Sem prumo com a metalinguagem.

Sendo assim, para o poema, eu cato
Palavras esparramadas pelo chão.
Por vezes eu arrisco fazer uma canção
Mas eu confesso que me falta o tato.
Apavonado, exibo a minha plumagem
De tal maneira, de tal forma e tanto...
Porém o poema nasce sem encanto
Sem prumo com a metalinguagem.

Uma luta intestina comigo eu travo.
Rasgo céus, crio pontes, derrubo o muro
Que Waters*** não esperava chegar no futuro
Com a precisão britânica de um escandinavo.
(Lembro de Bandeira**** com o seu "Libertinagem)
Entre mim e meu dicionário não há hiato
Travo com ele um verdadeiro pugilato
Sem prumo com a metalinguagem.

Então eu vou cantando o meu recado.
A vivência humana é feita de escolhas
Meu poema por aí se vai, feito folhas
Pelo mundo, que é o senhor do fado,
Implorando quem o leve na bagagem,
Aguardando quem o ame e o queira
Para o ler embaixo de uma laranjeira
Sem prumo com a... metalinguagem.





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