tigresa

Data 05/06/2017 05:20:20 | Tópico: Poemas

após longo tempo,
acordei com
muita vontade
de ser feliz.

fui ao nosso antigo
quarto e, finalmente,
usei o presente
que vc me deixara,
antes de ir embora.

abri o pote-mimo
reluzente e bebi
todo o seu líquido.

não demorou muito,
anoiteceu o meu viver ...

infinitos vagalumes
invadiram meu quarto
escuro
e viram minha epiderme
se cobrir de pelos
dourados; minhas unhas
crescerem negras e afiadas;
meus caninos
se agigantarem.

linhas negras longitudinais
apareceram na minha face.
listas negras horizontais
espaçadas
surgiram do pescoço
aos pés. enquanto
avançavam pelo tronco
e além do ventre,
um furação quente
infernava-me as entranhas.

meus sentidos estavam
aguçados.
arranhei todas as paredes
do quarto.
queria tudo
com urgência. queria
espaço amplo.
precisava da rua.
precisava de movimento;
abrir os braços;
levantá-los;
descer as mãos dos ombros
ao ventre;
girar e rodopiar
na calçada da Soledade;
pular sobre o teto das
estações dos BRT’s.

necessitava
bramir do seu alto
aos transeuntes toda
minha alegria;
meu desejo de dar
e receber muito amor.

até que não me restasse
mais força.
até que não me
lembrasse  mais
do seu abandono;
que eu definitivamente
deixasse de ser eu
para ser uma tigresa.

(25 de novembro de 2014)





Este texto vem de Luso-Poemas
https://www.luso-poemas.net

Pode visualizá-lo seguindo este link:
https://www.luso-poemas.net/modules/news/article.php?storyid=324389