
Sorver O Sumo
Data 12/06/2017 17:04:34 | Tópico: Poemas
| Sorvi o sumo do último Fruto da cesta. Reciclei o embrulho (Após uma sesta) Embaixo da gameleira Numa tarde fagueira De sexta Feira.
Parei no primeiro parágrafo. Ponto. Pronto, dois pontos, pontuei. Pousei a caneta na orelha Direita Levantei os olhos para o teto Namorei uma palavra Pois as outras não estavam no chão Dei nomes feios ao arquiteto Quando percebi bolor e infiltração Contei as aranhas uma a uma Nenhuma cabia na composição Em suma: Parei com a pontuação.
Veio a noite em veludoso manto Eu com as duas mãos no queixo Usando de artifícios, de um pretexto Para um poema que não fosse tanto Que tivesse a forma pequena Que não causasse espanto Mas quem ousa pegar da pena Para entrar neste reino fantástico Necessita ser um pouco de mágico, De palhaço, de profeta e de patife.
Não venha me lançar num esquife Nunca me julgue prepotente Mas tecer um texto muito exige De quem ousa passar pelo portal Onde Cérbero é o constante vigia Onde Virgílio foi, de Dante, o guia Onde Orfeu, o encantador de lira Numa cena que a mim sempre aflige. Por amor, não resistiu e olhou para trás Deixando-a no reino de Hades, no Estige.
Numa das cenas que Homero nunca disse Tampouco o profeta hebreu do longo cajado: Orfeu com o corpo no Rio Hebro jogado... Ainda ouve-se sua voz cantando: Eurídice! Eurídice!
Mas aonde é que eu estava mesmo? Fui escrevendo, escrevendo, a esmo... Como é difícil manter o foco, o rumo! No começo do poema eu não falava de sumo?
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