Estrelas

Data 26/06/2017 11:52:46 | Tópico: Poemas

Estrelas
(Ao curso 1955-57, no 60º Aniversário)

Aos dez anos, eu contava as estrelas
e minha avó dizia
que me riam nascer cravos nas mãos.
Eu não acreditava…
Aos vinte anos, punha nomes às estrelas:
Alegria, esperança, amizade, amor,
e colocava o teu rosto numa delas…
Aos trinta anos, agrupava as estrelas,
em tamanhos e cores…
Sonhava para elas,
ramalhetes e laços, nós, atilhos,
e podia mirá-las,
nos olhos dos meus filhos…
feliz e sem agravos…
na mão direita nasceram treze cravos!
Aos quarenta anos,
na escuridão do meu terraço,
eu olhava as estrelas cadentes,
envoltas em rendas transparentes
e reclinava a cabeça,
na dobra do teu braço.
Aos cinquenta anos, eu chamava as estrelas,
olhava-as com ternura,
achava que eram doces e serenas,
e poderiam iluminar a minha noite…
fazia-lhes poemas.
Aos sessenta anos, as estrelas fugiam
aos meus olhos cansados…
Eu contava-as, recontava-as…
e sempre as descobria, que ilusão,
a tentar penetrar,
neste meu coração!
Aos setenta anos… onde vejo as estrelas?
Chamo por elas… e por elas me perco…
e por elas procuro um rumo certo,
novas ruas, novos sonhos, novos afetos…
No céu não há estrelas,
andam todas bailando
nos olhos dos meus netos…
Aos oitenta anos… que sei eu?
Onde vou eu sem estrelas penduradas
no escuro do céu?
Tenho uma ideia bela!
Quando eu morrer
vou pedir ao Senhor
que ponha a minha alma
bem juntinho da tua
a sorrir no escuro
no meio de uma delas
Senhor, Senhor das coisas belas!

Maria Helena Amaro
Inédito
11 de junho 2017


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