Eu era só mais um,
um vulto passando depressa demais,
acostumado a não ficar,
acostumado a não ser notado.

Mas naquele dia…
teu olhar me puxou do escuro.
Veio leve,
sem barulho,
mas com o peso de uma vida inteira.

Se aproximou de um jeito que eu não soube escapar,
e pela primeira vez em muito tempo
eu quis ficar.

Sorriu.
E no teu silêncio
morava tudo o que eu nunca ouvi de ninguém.

Não precisei pedir nada.
Você só deu.
Me viu por dentro,
me leu sem legenda,
me despiu sem toque.

E eu…
me deixei cair.
De guarda baixa, coração exposto.
Tomei um nocaute sem soco.
Foi só olhar,
e eu já era teu.

Na tela, teu rosto era meio sonho,
mas o que eu sentia era real pra caralho.
Resolvi me mostrar —
não mais esconder minha bagunça.

E lá estava você.
Vestido simples.
Mas era como se o mundo parasse pra te ver.

A gente não falou.
Mas se entendeu.
Entre piscadas e respirações,
rolou a entrega.

Sem promessas,
sem juramentos de novela.
Foi só verdade.
Crua.
E bonita.

O cupido já nem precisava agir.
Você já tava morando em mim
antes mesmo de entrar.

Te entreguei o que sobrou de mim,
com todas as rachaduras,
com os medos,
com as dores mal curadas.

Te entreguei meu coração
sem fita, sem caixa,
só ele ali…
nu.
Na tua mão.

Cuida dele, vai.
Porque foi em você
que eu finalmente
me reconheci.