A Carta que Nunca te Escrevi ou a Simples Confissão do Meu Maior Crime (Parte XXXVII)

Data 03/07/2017 12:07:11 | Tópico: Prosas Poéticas

No dia em que te sonhei pela primeira vez estava deitado entre as espigas do meu Alentejo, a despir-te lentamente os olhos e a mostrar-te de que cor era o céu por aqui... coisas de miúdos. Nesse tempo tentava imaginar as cores com que pintavas o teu mundo, só mesmo para pintar o meu de igual. Depois o sonho mudava repentinamente, ficava a preto e branco, seco e sem vida. Nem os pardais que pairavam sobre aquelas espigas que dançavam ao sabor doce do vento, cantavam.
As lágrimas desse sonho tornavam-se pó e deslizavam pela face enrugada dos velhos que tratavam do campo como se este fosse um seu filho.
A norte o gelo derretia-se por entre as colinas da serra, era como o sentimento de perda... doía mesmo sendo um sonho.
Eu viajava pelo teu corpo e parava sempre no mesmo sítio, no teu olhar sorridente que se perpetuou até hoje na minha memória, o primeiro amor, o verdadeiro primeiro amor é sempre feito destas coisas, de sonhos que nem sempre mudam.
Se eu soubesse como sonhas, com o que sonhas talvez um dia te encontrasse, nem que fosse apenas para te contar quem eu sou. Hoje seria eu quem te mostrava a cor do meu mundo, e essa cor serias tu com o tal olhar sorridente a acordar comigo todas as manhãs, a pedir que o dia não acabasse, a ler o bonito balancear monótono das espigas ao vento. Gostava de te roubar esse sonho. Gostava de o encontrar entre os meus.



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