I - O genioso fidalgo Dom Quixote da Mancha
Data 03/07/2017 14:15:42 | Tópico: Épicos
| Apresento um herói de epopéia como aqueles que havia no passado ou somente um maluco apaixonado pela sua princesa Dulcinéia Dom Quixote empenhado na idéia de fazer o retorno dos andantes confundiu os moinhos com gigantes sempre junto de Sancho o escudeiro se tornando o bizarro cavaleiro no maior personagem de Cervantes
I - Primeiro episódio que trata de como um fidalgo sonhador se transformou no último cavaleiro andante
Num vilarejo da Mancha dos tempos de antigamente vivia em uma fazenda um fidalgo decadente que de amigos e vizinhos era em tudo diferente
Sem jamais compartilhar interesses com seus pares repetia relutante as rotinas regulares se mostrando entediado entre bailes e jantares
Vestia trajes decentes mas modestos no valor Tinha um velho pangaré e um galgo corredor O que mais o comprazia era ser madrugador
Seu repasto eram ovos com torresmo na farinha Carne, queijo e batata já faltavam na cozinha Nos domingos escapava com um caldo de rolinha
Dizem que este manchego com sua vida discreta por uma tal de Aldonza nutria paixão secreta sem cupido nunca ter acertado nela a seta
Convivia em sua casa com sua jovem sobrinha uma velha empregada prestimosa e sozinha e um moço responsável por tarefa comezinha
Era um cavalheiro magro beirando cinquenta anos começando a mostrar nos atos cotidianos toda aquela rabugice natural dos veteranos
Seu provável sobrenome era Quixana ou Quezado mas importa é sabermos que o fidalgo mencionado tinha tempo até sobrando pra ficar desocupado
Certo é que a gerência da fazenda esquecia e perdia o interesse em caçada ou pescaria quando começava a ler livros de cavalaria
Fascinado por novelas de cavaleiros andantes tinha livros a granel atulhando as estantes onde vinha reunindo traças, grifos e gigantes
E por sempre aumentar o seu tempo com leituras cada vez gastava mais em cadernos e brochuras precisando mais dinheiro pra arcar com as faturas
Com as grandes coleções consumindo sua renda resolveu por desatino demarcar e por à venda para quem pagasse mais partes da sua fazenda
A sobrinha se alegrava sempre que chegava o dia de ver o seu velho tio indo pra barbearia ou no rumo da igreja pra ouvir a homilia
Acontece que o fidalgo com o cura e o barbeiro só falava em romances por ficar o dia inteiro discutindo qual seria o mais nobre cavaleiro
Por um tempo cogitou escrever sua novela com gigante, feiticeiro, sem faltar uma donzela, e também um cavaleiro para ser vassalo dela
Seu intento era mostrar triunfando em campanha um guerreiro até maior que El Cid na Espanha mas trocou a narrativa por idéia mais estranha
Por encher sua cabeça com tanta coisa que lia e ficar toda semana trocando noite por dia pouco a pouco se deixou mergulhar na fantasia
De tanto ler e reler novelas e coisas tais foi ficando convencido que elas eram reais e a fantasia dos fatos já nem separava mais
A empregada servindo a farofa com torresmo certa feita o escutou dizendo para si mesmo: - Na condição de fidalgo eu estou vivendo a esmo!
Ele ainda prosseguiu dizendo em sua loucura: - Quero ser um paladino indo atrás de aventura e vou me tornar famoso por meus atos de bravura!
A sobrinha igualmente deparou com o seu tio de pé em cima da cama num completo desvario quase não acreditando nas coisas que ela viu
Empunhando o seu bastão qual se fosse uma espada dava golpes na parede deixando ela riscada Ela viu o destrambelho mas não entendia nada
Foi não foi ele dizia um e outro disparate: - Já deixei 4 gigantes derrotados em combate mas não é com o cansaço que um soldado se abate!
Foi então que decidiram retirar do seu alcance todos livros com o tema de novela ou de romance calculando que depois não teriam outra chance
Todavia elas ficaram sem saber o que fazer quando ele sorrateiro começou a se esconder sempre com a intenção de continuar a ler
Certa feita procurando esconder-se um momento no porão da sua casa encontrou o armamento que o saudoso bisavô conservou do regimento
Encontrou um chifarote, uma adarga, um cinturão, as ombreiras e as grevas, o gorjal e o morrião, os coxotes e manoplas, e a lança espontão
Completava uma couraça bolorenta e amassada que apesar de apresentar leves manchas na lombada pelo seu tempo de uso reputou por conservada
Experimentou o traje que ficou meio folgado mas na sua fantasia tudo estava ajustado como se ele já fosse um guerreiro do passado
Pela falta de viseira no seu velho morrião ele improvisou a peça recortando um papelão amarrando com arames como a grande solução
Ao olhar-se no espelho com aquela armadura novamente acendeu-se a centelha da loucura decidindo nessa hora se lançar na aventura
- Cavalgando meu corcel marcharei numa campanha reparando as injustiças dessas terras de Espanha pra honrar os cavaleiros em mais de uma façanha!
No momento que estava essas coisas cogitando de repente escutou o cavalo relinchando como se o matungão estivesse lhe chamando
Convencido que já era um guerreiro de novela foi até seu pangaré colocando nele a sela enxergando um corcel no matungo magricela
Quis montar com altivez imitando a narrativa mas depois de repetir mais de uma tentativa a subida por um mocho foi melhor alternativa
Já montado no matungo decidiu ser importante só chamar o seu corcel por um nome elegante e de tantos que pensou o melhor foi Rocinante
- Sairei no meu cavalo viajando em toda serra Um perfeito paladino a cruzar por essa terra e Dom Quixote da Mancha será meu nome de guerra!
- Meu intento é honrar os que já vieram antes restaurando o apogeu dos cavaleiros andantes sendo o mais prodigioso em façanhas relevantes!
Como todo cavaleiro tem por musa a donzela a quem ele considera a mais virtuosa e bela o fidalgo já sabia que Aldonza era ela
Mas pensando que a moça tinha um nome embaraçoso preferiu chamar a musa Dulcinéia de Toboso que na sua opinião ressoava harmonioso
Tendo o nome escolhido e trajando a armadura com desejos de fazer grandes atos de bravura Dom Quixote decidiu se lançar na aventura
A sobrinha avistando o figalgo na estrada cavalgando com o traje disse para a criada: - Ele nem nos avisou onde é a mascarada...
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