Quando morre um poeta

Data 20/07/2017 14:51:54 | Tópico: Poemas

As flores se retiram, as folhas não conversam mais,
os rios adormecem, o mar se recolhe mais cedo,
a noite apaga as lanternas, o dia indefere a razão,
as tardes não se apresentam, as madrugadas não se manifestam,
os estádios perdem os sentidos,
as ruas se acomodam, as cidades ficam mudas,
as crianças não sujam a cara, os velhos redescobrem a bengala,
os mendigos reinventam a miséria, os pobres revigoram a fome,
os soldados ocupam as armas, os canhões falam mais alto,
e ninguém fala mais de flores.

As facas retalham a vida desfibrada,
as bombas pedem passagem,
o sol se cobre com um casaco comum,
a democracia adormece.

O violão perde as suas cordas,
o conhaque comove mais que a lua,
o seresteiro se recolhe mais cedo
e
a vida dorme um sono definitivo.

Eliezer Lemos


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