Eu nunca dediquei poemas às fortunas (plágio)

Data 26/07/2017 08:39:04 | Tópico: Poemas

Prevendo algumas críticas, identifico as obras cujos excertos copiei (vd. notas no final do texto).

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EU NUNCA DEDIQUEI POEMAS ÀS FORTUNAS

invoco-vos, sílabas em sangue, dilacerantes...
sou mais um casto poeta, vergado aos dardos belicosos,
que continua a lamentar, voltado para as vagas,
a eterna saudade dos seus mais queridos
momentos de cólera, ao beijo das chamas,
pois serão eles a cobrir os exércitos de opróbrio
e, ao milagre do sol crescente, responderão com desprezo:

"parte para longe, feiticeira dos espólios!
estas vigas estão frágeis, prestes a cair,
letra a letra, palavra a palavra,
porque está a chegar a hora dos sonhos
e vós que, por mor morte, me dais desgostos
sabei que o tempo ardeu, mas não vos julgará."

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Por honestidade intelectual, devo dizer que este poema é um plágio de vários autores, que quis homenagear.
Para além do título, retirado de "Contrariedades", de Cesário Verde (poeta português, n. 1855 - m. 1886), transcrevi excertos de obras pouco conhecidas, mas que vale a pena destacar. O número refere-se ao verso do poema.

1) "Manifesto Omnívoro" (texto programático de um movimento literário que defende, entre outras coisas, a deglutição de poemas na via pública, que configura contraordenação grave na legislação em vigor).
2) Poema de Magnus Cabularius, vate romano do séc. I a.C., escrito durante uma viagem de finalistas a Corinto. O dono do hotel relatou orgias no androceu, mas os pais disseram que eram brincadeiras normais de qualquer puer.
3) "Marcha dos marinheiros" (cântico tradicional dos pescadores da Nazaré, entoado em manifestação contra a descaracterização da sua terra pela recente invasão de surfistas norte-americanos).
4) Lápide no Prado do Repouso (Porto). Este cemitério possui jazigos predominantemente neogóticos e está dotado das mais modernas instalações sanitárias (co-financiadas pelo Fundo Social Europeu).
5) Manifestação pré-linguística do Homo Erectus (circa 1 800 000 a.C.), depois da descoberta de que os grelhados são saudáveis e saborosos, mas há que ter cuidado com as regras de higiene e segurança.
6) "Livro dos Medos" (apócrifo não incluído no cânone bíblico). Esquecido há muito, recuperou visibilidade a propósito de um incidente ocorrido recentemente na zona de Tancos.
7) "O quinto segredo de Fátima", de Mimi Consuelo, sequela da conhecida saga dos pastorinhos, em que se descobre que afinal Francisco e Jacinta não morreram: emigraram para Newark e foram fundadores da Igreja de Elvis.
8) Excerto de uma discussão entre duas adolescentes, posteriormente sujeito a adaptação pelo autor. Versão original: "Baza, bruxa de m*rd#!"
9) Informação gentilmente cedida por um colaborador de certa empresa de construção civil, comentando uma unidade hoteleira em Freixo de Espada à Cinta.
10) Publicidade televisiva dos anos 80 aos Dicionários da Porto Editora (objeto tornado obsoleto no séc. XXI, tal como a banda sonora do anúncio, de The Smiths).
11) Canção de embalar (Emissora Nacional, durante a primavera marcelista, diariamente às 20h00 em ponto)
12) Cantiga de Amor de Pero Anes de Santiago, autor medieval que inspirou bandas míticas como Sétima Legião, Moonspell e Agrupamento Musical Diapasão.
13) Oráculo da pitonisa Helena de Tróia, cujos atendimentos são discretos e muito razoáveis em termos de qualidade/preço. O consultório fica em Lisboa, na Av. do Brasil, nº 53 (acesso automóvel pela entrada Norte - Rua das Murtas).


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