Pés chatos do fogo

Data 27/07/2017 06:43:14 | Tópico: Prosas Poéticas


Ó fogo amigo!
Tu que me dás teu calor
Cozes meu manjar
E afugentas inverno
No meu leito,
Por que tornais bravo
Nos sóis de verão?
Dás luta aos homens,
Fazes correr lágrimas
No mar de lamentos
E nunca retrocedes
No teu caminhar,
O vento é teu guia
E a sujeira teus pés.
Ó fogo, fogo amigo!
As vezes penso que
Não és nada mau,
Se a sujeira não fosse ter às casas,
Às casas não irias ter,
O homem te chama
E tu com tuas chamas
Caminhas na sujeira dos teus pés
Que o homem nunca limpou
Nem soube delimitar.
É pena que quando caminhas
Abraças a tudo com tuas brasas
E tudo levas, até a própria vida,
O homem chora e não aprende,
Cada verão que te atiça,
Teus pés são os mesmos,
Teus abraços são os mesmos
Tuas brasas são as mesmas,
O choro do homem é o mesmo
E nunca soube limpar teus pés,
Ou delimitar tua andança
Pelas casas que dás teu calor
Quando o inverno aperta.
Ó fogo, fogo amigo!
Tu és justo e bom,
Injusto e mau é o homem
Que não soube cuidar
Dos teus pés chatos,
E quando o verão
Implacavelmente ataca
Vais correndo por aí
Que nem um louco
Que o diabo soltou
E o homem alimentou
Com a sujeira
Que lhe engole a casa.

Adelino Gomes-nhaca



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