| |  
 
 Roba-lo tu, ou robo-lo eu?Data 14/08/2017 23:15:51 | Tópico: Poemas
 
 |  | Estavam três damas mui aprumadinhas
 no areal doirado, à hora do sol pôr,
 nisto dá à costa, por entre as pedrinhas
 um belo robalo, ai!, nosso senhor!
 
 O sol, castamente, desviou o olhar,
 nem quis ver das damas a gula e a cobiça!
 E o bom do robalo, pronto a escamar,
 longilíneo e ágil, tal e qual linguiça
 
 começa a despir, em árduo ritual
 o fato colante, colado, colando
 (ai, que tentação, que pecado carnal!)
 o olhar das damas em jejum penando.
 
 O peixe mexia, puxava, bulia,
 tentando tirar o fato molhado
 e às sereias, rindo, só apetecia,
 ir dar uma ajuda ao belo pescado.
 
 Por fim o robalo livra-se da escama
 - ai que rica posta eu faria do lombo!
 -ai que bom filete pronto para a amanha!
 -ai, sai-me da frente, meu gordo biombo!
 
 (isto elas diziam, cada em sua vez,
 já lambendo os beiços, já prontas à guerra,
 o robalo fresco, já rindo das três,
 muito à socapa, de costas pra terra)
 
 Nisto as donzelas, sereias da tarde,
 já puxam cabelos, entornam o caldo
 já a areia voa, até o mar já arde
 e eu nem vos conto qual foi o rescaldo:
 
 foi vingança doce, acalmem-se os ânimos,
 risos de bô conta, contas de bom riso,
 afinal o mar, salgado e magnânimo
 trará mais robalos, meninas, juízo!
 
 “É que um croissant, um queque ou um éclair
 são bem melhores que um reles robalo!”,
 consolam-se as damas, fingindo não ver
 uma gaivota vir e conseguir... roubá-lo!
 
 | 
 |