O que atrai num poema

Data 15/08/2017 18:26:28 | Tópico: Poemas

O que atrai num poema,
o que embeleza seu tema,
se sabe, em geral é a rima.
Suas palavras e versos,
com andamento ou dispersos
é o que lhe dá sentido.
Mas não é mais que cinzel,
ou do livro o papel,
instrumento ou matéria prima,
o que parece essência,
embora lhe de aparência
e até o tom pretendido!

O que é real no poema,
o coração do seu tema,
extrato do pensamento,
é bem mais do que está dito,
em seu conjunto bonito
ou nas expressões dos lábios.
É do poeta o grito,
de amor, de dor ou conflito,
do coração o sentimento!
Isso sim eterniza a escrita,
na forma em que foi dita
e na visão apurada dos sábios.

Se for o amor que o embala,
será lânguida sua fala,
romântica a sua beleza!
Do arco-íris os tons mais suaves,
bordados por vôo de aves,
tingirão os suspiros da alma!
Será porto de esperança,
enternecerá até a criança,
terá da pluma a leveza!
Não pesará sua leitura!
Declamando-o qualquer criatura,
experimentará no peito a calma.

Se versa o palco da paixão,
será maior a explosão
a ecoar em cada linha.
Expressões arrebatadas,
de ansiedades carregadas,
dilúvio de sensações.
Sensações que sem limites,
ao leitor propõe convites
a devaneios que não tinha.
Terá a força de um ciclone,
a aspirar pro próprio cone,
enxurradas de emoções.

Dilacerante ou amena,
pode a dor inspirar tema,
também fazer poetizar?
Pode em sua malvadeza,
aos versos trazer beleza,
ao poeta a sensação de criar?
Pois é a dor o elo forte,
até mesmo a dor da morte,
que liga o homem ao criador.
Portanto é essa amiga,
a aliada mais antiga,
fiel consorte de todo versejador.

Ilustres pensadores,
poetas de muitos amores,
na dor encontraram o tesouro,
o oxigênio da inspiração,
o combustível da criação,
que o talento os cumulou!
Nos mais delicados arranjos,
em revoada de arcanjos,
extraindo da pena o ouro,
quando em meio aos sofrimentos,
às angustias e tormentos,
ninguém os superou!

É a dor a noite escura,
é ausência de candura,
é do abismo o limiar.
Se presente, toma, arrebata;
ao corpo e alma maltrata,
faz sangrar o coração.
É da vida a cumeeira,
é a porta derradeira,
que tem o fim a espreitar.
A presença do seu grito,
faz do poema um rito,
confundido em oração.

O maior grito de dor,
é o que brota do amor,
dos momentos de desdita!
Assim é com o trovador,
com o poeta sonhador,
com um ser apaixonado.
Assim foi com o Salvador,
que no auge do amor,
em experiência inaudita,
entregou-se na paixão,
redimindo a criação,
com sua dor de abandonado.

É a dor a noite densa,
ela abala nossa crença;
as trevas vêm nos visitar.
Mas sem ela faltaria,
o esplendor da luz do dia,
que à noite vem render.
Quando chega a alvorada,
toda dor vem transformada,
ao amor revigorar.
É no altar da oferenda,
é na cruz e não na lenda,
que acontece o renascer.

O que é real no poema,
o que atrai em seu tema,
é o coração do criador!
É de sua alma o grito,
de luta, entrega ou conflito;
é dor, é paixão, é amor!



Este texto vem de Luso-Poemas
https://www.luso-poemas.net

Pode visualizá-lo seguindo este link:
https://www.luso-poemas.net/modules/news/article.php?storyid=326946