A EUTANÁSIA
Data 31/08/2017 17:36:19 | Tópico: Poemas
| EUTANÁSIA
Dia 25 é o dia marcado para a eutanásia. O coração já se enxovalha em melancolia. O simples pensar já faz diminuir o bater. Se parássemos para o relato, fartar-nos-iam folhas em branco. Tentar-me-ei de algum lugar, --ainda que o corroa a dor---simplificar a amostra e os dizeres de outrem.
Nos idos daqueles anos de chumbo ela aportou em nossa vida. A sua chegada fora regada de música, cerveja e muita aclamação. Linda, espaçosa e gigante—para o padrão da época-- coloriu o nosso lar. Deu vidas as quatro paredes da sala. Nas tardes de domingo vinham amigos e parentes para o churrasco, mas era só para vê-lá, pois já ouvira boatos de sua chegada. Os vizinhos a adoravam e o que mostrava a eles: música, comédia, drama. No fim das novelas, era um chororô só. Ficava ativa o dia inteiro, nunca se cansava de expor imagens a todos. As crianças corriam para se sentar no sofá na hora dos desenhos mostrados nos programas infantis. Para arranca-las de diante dela --para dar a coitada um pouco de descanso-- Era um drama infantil.
O tempo passou, crianças crescem e a vida muda. Passando pela rua, numa simples visita ao shopping, vemos novos modelos de plasma, LCDs, até Internet tem. Hoje em dia não é mais um simples aparelho de TV; podem até contornar a parede feito quadro. Tudo é digital. O avanço da tecnologia a retira do convívio das famílias. Há famílias que nem podem ter o prazer da substituição. Entra no jogo o conversor, antenas modernizadas dando-a a oportunidade de permanecer por alguns meses, ou ano: ---Agora é só digital! --Disse o vizinho que entrara na onda. Na nossa casa, a vida ainda não é digital. Não teremos antenas, ou conversor, e no dia 25 a eutanásia será orquestrada pelo sistema calando-a para sempre. Restará apenas chuviscos e lembranças de tardes com a família reunida diante dela para ver os programas.
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