Trinar anjos de fruta verde vivo

Data 14/09/2017 09:38:44 | Tópico: Poemas

Tricoteio as meias na vez das inteiras,
trocando as lãs com as agulhas,
com as cores velhas e garridas
dum cachecol novo,

para o verão que se passou

e na vez de outono, inverno,
internos, chovem antúrios, gladíolos
gladiadores aos beijos, intímos, ternos,
terminando no sangue da expulsão,

amnióticos e mecónicos, vivos.

Ainda que respirem baforadas de sons,
singularidades de outrora e d'hoje
na massa que sempre houve,
como peixe em conserva,

um a um
atum.

Segue o sangue, a crosta seca,
o ferro que se sente no ar ametista,
amendoado, no sofrimento de castanha;
invólucro de ouriço e de bicho

que, invejoso de batata, não quer raíz,
mas boca.

Bocado de palavra, de voz, de canto,
de metade como meias,
como inteiras por tricotar luvas, em vez de cachecóis,
sóis, na vez de meias-luas como cebolas

num refogado
num poema.
Choram.



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