À toa

Data 11/09/2017 23:51:39 | Tópico: Poemas


Da tua invasão eu temo,
A rosa palma da tua mão,
Quando lambe a brisa suave e branca,
com sua concha desavergonhada,
estendida ao aceno...
De tua boca levantar-se-ão mil pássaros
desfraldados ao vento ameno,
resvalados na fenda oculta
que o tempo estribilha,
Como o silvo da fecha de tua ausência;
- Ferida a que sucumbo -
Silencia , me atrai,
Mata-me quando no peito ressoa,
Qual vento que, à toa, retoca o amor,
Como as velas soltas dos barcos
emaranhados em sonhos...

Pensamento que voa, e dorme,
com o profundo da ondas
no frio das asas quebradas do mar,
espumando nas pedras cálcicas da tua ilha,
junto a um espírito enevoado;
Teus olhos hão de ter-me perguntado,
E o que direi a eles,
Fitando o vazio,
sobre a neblina translucida do meu mundo?

Pouso entre seus dedos,
Desobrigado da monção vagarosa
que habita uma tarde,
Com a mesma nostalgia ávida de tristeza,
que em meu peito,
Quando não cura, ronda-me e arde,
na cicatrização da recém costurada pele
com a tontura sufocada em meu coração...

Em breve,
Vou caminhar sobre as ondas do teu querer,
Viajar com minha alma mais leve,
Desbravando
e descobrindo cada cantinho
oculto do nada,
-Que a noite sutilmente guarda-
Noite esperada de luar,
em que meu pranto insiste em cair,
E ser uma torrente graciosa da chuva,
Resistente como nuvem negra
da face devidamente auspiciosa ,
que persiste em ser avistada num temporal.




“Porque choras, pai? – perguntou a Dora. Não choro, filha, estou a dar de beber a um peixe que existe dentro de mim…. Dora colou-me os braços à volta do pescoço. Pai, és um poeta! – murmurou num sorriso. E tu um poema, respondi.”
João Morgado




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