morte exemplar

Data 27/09/2017 19:49:40 | Tópico: Poemas

acha-se poeta da morte noite após dia, lua após sol, sol após lua. rema o tempo todo contra marés com as manápulas engorduradas de futilidade; não envelhece e assim conta mortes como quem fura balões de espuma. não tem memória cada vez que mata por amor. diz-se poeta por transfigurar invernos em infernos nas noites secretas por rotas repetidamente iguais. de vez em quando reaparece, como vedeta espectacular, traquina a alma da plateia e mostra a sua língua a martelar um idioma extra-estelar. é um ser sobrenatural como o adamastor e vai afiando as unhas na face escondida da lua, mas acaba sempre estatelado num palco onde ardem livros nunca lidos. nele o amor e a morte são tão confusos que não respira sequer, tem apenas boca para recitar de cor a lista dos seus mortos e unhas para pintar de sangue a rosa do coração tatuada na nádega esquerda. na outra nádega ostenta um pé de cabra com que racha abismos abaixo do umbigo. e, assim lá vai o poeta no seu barco em direcção ao sol em carnaval exemplar.


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