
imigrante ou heliane ferreira pinto
Data 07/11/2017 16:19:40 | Tópico: Poemas
| que vejo eu? vejo o nada, apenas. mesmo assim, a imagem me vem pela luz do meu poeta, hirto e translúcido a subir, sem preconceitos os morros empoeirados e empoleirados, da cidade onde eu vivi.
que imagem, que viagem, meu companheiro!
desço dessa cadeira fria e aqueço o termômetro de meus ressentimentos. embarco nessa viajem aconchegante de portas arreganhadas dos escritórios ensolarados e das clínicas ensandecidas.
ah, quero ver e me envolver nessa beleza simples; nada vale mais que isso; nem mesmo a beleza do eterno verde de minhas montanhas inexpugnáveis, pois o que me basta é o morro. quero andar de pés descalços, quero sentir o cheiro agridoce da pitanga, quero ver o amarelo do ipê na floração efêmera da primavera.
que vejo eu? vejo o nada apenas! ora me perco em sonhos no brilhante amarelo de meu país no emaranhado irregular da rua em poeira, no casario do meu passado nos acordes de um samba de adoniram nos trejeitos irreverentes da passista, numa terça feira de carnaval.
ah, poeta! fala da lua cheia despontando da piedade a serra que nos protege. fala da estrela da manhã cujo nome se trocou de vésper e se rebatizou de d’alva. fala dos campos floridos dos cachos feito pêndulo emergindo dos bananais. fala dos seixos articulados repousando a margem de seus rios fala dos vaga-lumes com suas tochas azuladas e cintilantes riscando os caminhos da madrugada. fala do barro massapê fala das margaridas, fala das sempre vivas e das borboletas que flutuam como folhas secas ao vento.
mas, que vejo eu nessa anêmica manhã, senão os escondidos reflexos da solidão?
ah, poeta, meu poeta! fala mais... fala mais dos sonhos de meu povo, fala do coqueiro que viceja na ravena, fala dos amores, das dores fala de mim fala do meu povo; fala dos miseráveis fala dos infelizes (que os felizes não merecem ser citados). fala poeta! fala de nossos matizes de nossas andanças descontraídas pelas ruas silentes, de uma cidade em transe.
fala dos albores da vida, dos amores incompreendidos, fala dos perdidos, fala dos desvalidos, fala das mães solteiras fala das que são mães apenas - que as mães não se classificam por estado.
ah, fala mais, filho da mãe! que eu não posso mais ficar aqui sem sua poesia.
fala, poeta! fala pois eu te escuto fala pois sou sua miragem que eflui no mágico som que vem do mar, fala pois preciso dos encantos seus e de sua poesia, e do viver, viver eternamente em minhas lembranças. fala, que eu preciso ouvir pra não me ver perdido, como um duende errático encurralado num insólito jardim de inverno. Composição a partir de um e-mail de heliane
|
|