O papiro e a bula da meditação

Data 14/12/2017 12:27:29 | Tópico: Poemas

"Meditai, pois
para a evolução
um gole de silêncio
decifra o coração"

[...]

A informação inaudível,
palavras não proferidas,
instante de silêncio,
saboreando o som do vácuo

as portas do templo interior
abrem-se para adentrar ideias;
navegar o desconhecido,
depositando luz pelo caminho

eis que o frenesi adormece
e a alma é tocada,
anestesiada pelas maravilhas
do saber incomum

os segundos-horas
cortam a linha do tempo
enquanto se medita,
fixado no ponto referencial
determinado pela crença pessoal

[...]

tudo se ordena,
tudo se corrige,
tudo se transforma

[...]

os antigos afirmavam
que pra dor no coração
não há medicação,
apenas meditação

alguém do tempo avisou
que reduzir os passos
evita ansiedade e depressão

alguém no tempo deixou
naufragar a receita da meditação

e hoje,
a inevitável droga da rotina,
espalhada pelos morros,
com partículas em ápice de força,
agitação, turvação e turbidez

produto da ignorância
dos formadores de opiniões
dando morbidade à vida
simples, por natureza

Não sejamos tolos!
Saibamos interrogar o nosso eu,
rebuscar a essência,
dopar-se de inteligência

não se fabricam profetas
como antigamente;
não se compõe belas canções
que ultrapassam gerações

poetizar é uma forma
de fisgar o que naufragou
no mar tenebroso das lamentações

o papiro com a bula
segue intacto e legível;
sem contraindicações
e com posologia para uso diário

By Renato Braga


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