
Beijos Fantasmas
Data 25/12/2017 11:04:43 | Tópico: Poemas -> Paixão
| Junto a minha tia eu fui a capela, por que ela queria Talvez fora o destino, mas de longe vi uma menina Linda, a pele branca como as nuvens do dia Estava distante, estava sozinha Eu fiquei fascinado pela sua beleza Deixei minha companhia e parti, Ao encontro da pequena sereia Ela me disse que morava nas redondezas Perguntei se não tinha medo do cemitério, Ela respondeu dizendo que era bobeira, Muitos de seus parentes descansavam lá Quando percebi, o tempo havia passado, Eu acabei por ficar enfeitiçado pelo seu charme Minha tia já estava terminando, E por aquela garota eu estava me apaixonando Ao término, perguntei se poderia vê-la novamente Eu conhecia aquela rua, e em concordar, fui embora contente.
No dia seguinte, lá estava ela, no mesmo lugar Comecei a pensar que ela talvez gostasse mesmo de rezar Eu não iria critica-la, cada vez mais eu estava a me maravilhar Conversávamos sobre tudo, sobre as flores, sobre o mundo Me lembro que ela me perguntou uma vez, Se eu sabia quantos túmulos havia depois do muro Eu não fazia ideia, ainda disse que sentia muito.
Nossos encontros se tornaram diários Meus professores da escola se espantavam, Com a rapidez que eu entregava os trabalhos Apenas para subir aquela rua de pedra, E me encontrar com a linda donzela.
Depois de algum tempo, sobre o olhar da Lua, Nossos lábios finalmente se encontraram Me senti como se pudesse iluminar aquela noite escura Eu a segurava em meus braços, Sentia toda a sua ternura, E tentava aquecê-la, pois era fria a sua pele Os beijos seguintes foram leves, mas nada breves E estavam carregados com sentimentos esbeltos Eu queria que aquele momento fosse eterno, Mas para sempre ele estará vivo, escrito neste caderno.
Ao nascer do dia seguinte, não a vi A capela ainda permanecia, mas ela não estava mais ali Eu voltei nos dias futuros, Meu coração começará a ficar inseguro, sentia sua falta, E eu sempre chorava quando voltava para casa Eu sentia uma grande saudade Ela havia criado em mim uma fragilidade.
Alguns meses depois fui, junto a minha tia, ao cemitério Era o aniversário de minha vó Eu estava um pouco imerso, com pensamentos no deserto Enquanto nos retirávamos, eu notei, lá de longe, Um senhor de idade, ajoelhado, diante de um túmulo belo Ao nos aproximar, Indaguei aos meus olhos se eles estavam cegos Não aguentei e simplesmente despenquei Aquela a quem me beijará, jaz a mais de uma década naquele túmulo O meu amor fora ou não real? Eu ainda era puro?
O tempo me obrigou a superar Às vezes eu acordava e me lembrava E com ela eu sonhava, nunca consegui acreditar Até que a velhice veio me falar, Que meu tempo haveria de chegar.
Me apaixonei por outra pessoa, E junto a ela, tive uma vida duradoura Nossos filhos deram, aos filhos, os nossos nomes Eu sempre amei minha esposa, Mas nunca quis esquecer daquela minha juventude, Da garota especial, de quando estávamos juntos Nunca se foi da lembrança seu beijo, apesar de tudo Sessenta anos se apoiaram em meus ombros E, lá no fundo, continuei amando ela, talvez esperando, O dia em que eu fosse encontra-la, assim como antes.
Eu voltei a ser aquele mesmo rapaz, Quando Deus finalmente me deu a eterna paz, Fui descansar no fim da rua de pedras Quando abri meus olhos, eu vi ela Permanecia a mesma, e eu perdi uns setenta anos Éramos novamente dois jovens se abraçando.
Ela esticou sua mão para mim, e partimos Pelas ruas caminhávamos sorrindo Me despedi pela última vez de minha esposa e filhos, E subi, em direção aos céus, com aquela mesma garota, Que conheci na capela, e que hoje comigo voa.
|
|