VIII - O genioso fidalgo Dom Quixote da Mancha
Data 21/02/2018 13:08:24 | Tópico: Épicos
| VIII - Oitavo episódio que trata da mais famosa e jamais imaginada aventura dos moinhos de vento
O leitor que acompanha essa prazerosa história do andante Dom Quixote cuja fama foi notória vai ver agora o herói numa nova trajetória
A data certa dos fatos por um tempo pesquisei mas o ano em que se deu eu mesmo dizer não sei só podendo adiantar que foi no tempo do rei
No episódio passado já contei como Quixote recrutou o seu vizinho que era gordo e baixote para ser um escudeiro nas campanhas do velhote
Sancho Pança tinha sido camponês a vida inteira e somente conhecia coisas da lida campeira Pobre, leigo, e outra mais, de pouco sal na moleira
Mas com ele o cavaleiro retomou o seu intento de fazer outra jornada dando até consentimento para o companheiro ir escanchado num jumento
Repetindo na viagem os trajetos e locais os parceiros avançavam percorrendo os chaparrais foi então que avistaram trinta moinhos ou mais
Dom Quixote se aprumando disse para o escudeiro: - Não podemos prosseguir antes de passar primeiro por esses brutos gigantes dali do campo fronteiro!
Sancho Pança intrigado disse sem acanhamento: - Me desculpe o patrão mas olhando bem atento lá na frente eu apenas vejo moinhos de vento!
Dom Quixote respondeu sem perder a compostura: - Para seu conhecimento sou versado em aventura Reconheço um gigante mesmo quando na lonjura!
- Que eles venham provar os meus golpes fulminantes Sou espelho e resplendor dos cavaleiros andantes Estou pronto pra vencer o mais forte dos gigantes!
- Agora você vai ver companheiro Sancho Pança como faz um cavaleiro valoroso que avança nas fileiras inimigas confiando em sua lança!
Dizendo isto Quixote seu cavalo esporeou e no rumo dos moinhos resoluto disparou O suposto cavaleiro para o mundo anunciou:
- Sou Dom Quixote da Mancha o engenho mais subido! Eu jamais fui à peleja onde voltasse vencido! Essas terras nunca viram um guerreiro tão garrido!
Num terreno inclinado avançava Dom Quixote mas o cavalo sem forças para sustentar o trote só a custo é que subia carregando o velhote
- Rocinante, meu corcel tão veloz e vigoroso que jamais retrocedeu em combate perigoso é a hora de honrarmos Dulcinéia de Toboso!
O matungo estranhando o trocar das andaduras foi subindo o barranco já sentindo contraturas sem firmeza pra sequer levantar as ferraduras
Mesmo com seu pangaré derrapando no caminho avançava o cavaleiro para enfrentar sozinho o gigante embrutecido que era só um moinho
Como faz um cavaleiro que disputa um torneio Dom Quixote deu a carga no moinho sem receio de envergar a sua lança que foi partida no meio
E como se não bastasse quebrar a arma somente uma rajada de vento que surgia de repente fez as velas do moinho rodarem rapidamente
O freio de Rocinante na vela foi enganchado Junto dele o cavaleiro foi rodando pendurado e dum jeito esquisito despencou do outro lado
Sancho Pança quando viu seu patrão estatelado parecendo um jabuti com o casco emborcado na garupa do jumento foi chegando avexado:
- Eu não sei se o patrão é mais louco do que certo mas fazendo o seu cavalo disparar em campo aberto não viu que eram moinhos nem olhando mais de perto?
Ajudando o cavaleiro a levantar-se do chão Sancho Pança escutou a resposta do patrão que a culpa da derrota imputava a Frestão: - Foi Frestão, o feiticeiro que por um ato mesquinho vendo que eu venceria esses gigantes sozinho prontamente os deixou transformados em moinho
Dom Quixote novamente remontou em Rocinante que meio desconjuntado chouteava hesitante... Sancho remontou o asno pra seguirem adiante...
Enquanto seguiam rumo Dom Quixote ao patrício começou a explanar coisas sobre seu ofício tudo estando de acordo com seu mundo fictício:
- Não me venha acudir se eu correndo perigo estiver em desvantagem combatendo um inimigo Não permito ao escudeiro batalhar junto comigo
- É mister do cavaleiro não ser dado a lamento pelas dores corriqueiras de espasmo ou ferimento quando forem resultantes de algum enfrentamento
Quis saber o escudeiro com o respeito devido: - Só espero que gemer não me seja proibido que até um calo no pé eu já acho dolorido
Repassando na memória os livros que tinha lido Dom Quixote assegurou que seria permitido pois conforme as novelas tudo era respondido
Relativo aos despojos Sancho queria partilha Tinha sido convencido a seguir naquela trilha com promessa de estar no governo duma ilha:
- Não esqueça o patrão que desde minha partida aceitei ser escudeiro nesta jornada comprida para ser recompensado com a ilha prometida...
- Não se preocupe Sancho pois aqui e além-mares com os despojos da guerra enricaram os meus pares e pretendo que os nossos ultrapassem os milhares
- Governar a sua ilha será um grande serviço pois quando chegar a hora de honrar o compromisso vai ser uma insensatez aceitar menos que isso
Estando nessa conversa depararam um bambuzal Quixote ficou ditoso de encontrar este local Com uma vara comprida faria a lança ideal
E a ponteira de ferro da lança que se quebrara Dom Quixote aproveitou pra por na ponta da vara tendo agora a sua arma feita de ferro e taquara
Depois de terem os dois por lonjuras viajado aquela noite passaram num arvoredo copado debaixo de vasto céu por estrelas cravejado
Com a lua clarejando a paisagem européia Quixote varou a noite a pensar em Dulcinéia a personagem central de sua linda epopéia:
- Oh, minha dama gentil não despreze meu amor... Que farei se nunca mais vir seu rosto encantador? Será longo meu penar! Será grande minha dor!
- Sei que nunca poderia outra ser minha princesa e se as flores do campo tivessem sua beleza eu ficaria mais tempo contemplando a natureza!
- Oh, estrela rutilante, a razão do meu enlevo, não serei o seu poeta que a isso não me atrevo mas não deixo de pagar os suspiros que lhe devo!
Como se fosse Quixote realmente apaixonado dava suspiros enquanto Sancho Pança estirado sem ouvir grilos ou rãs dormia um sono pesado...
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