Imortalidades

Data 25/03/2008 22:45:59 | Tópico: Poemas

Liberto um último suspiro...
Vislumbro uma gasta silhueta na rua
De olhar amedrontado, irreal.
Pernas trôpegas, trémulas, errantes
Que deslizam em lágrimas amantes.
Homens pela batalha fatal,
Que trocam suas vidas pela Lua,
Caídos ao som de mais um tiro.

Acaricio a face que já foi minha,
Embalado pelas ondas do mar salgado
Que inunda os desertos da memória,
Enaltece os desejos de cada dia,
Lembra felicidade e simpatia.
O lado escuro de uma vida simplória
Que se vende, vive neste corpo abandonado,
Que chora, ama e definha.

Remendo os erros que me deixam respirar,
Que me levam a tantos funerais...
Existência infâme e grotesca
Que me devora e tritura a alma,
que exige dor e calma.
Forma de vida pitoresca,
Relógio de horas infernais.
Estou sem forças para sonhar...

Canto louco às estrelas cadentes,
Às hordas de flores que o campo me dá.
Conto os passos em caminhos lamacentos,
As pedras que me atiram sem dó...
Corpo meu que jamais serás pó!
Perdido no nada, ao som dos quatro ventos,
De cabelo solto, para lá, para cá,
Pesam-me nas mãos estas correntes.

Calo tudo o que um dia quis dizer,
Faço vénias às lápides dos amigos,
Dos conhecidos e outros que tal...
Tento em vão lembrar todos,
altos, baixos, magros e gordos.
Maldições desta vida imortal
Que passeia na história, entre jazigos,
Criança que é homem, que vive a morrer.


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