O dar das mãos...

Data 26/03/2008 11:06:42 | Tópico: Prosas Poéticas

O dar das mãos está frio,
está frio e gelado,
ficam aqui em silêncio
as mãos que nunca se dão...

Sou uma marioneta do passado, embriago-me da dor e preencho-me de perda, o meu maior vício é a solidão, a minha maior memória é a tristeza. Recordações? De agora em diante só quero ter uma ou duas, as outras estão fechadas no baú da minha infância, a sete chaves, tomara eu não me lembrar já delas.

Sinto o gelo a preencher os contornos da minha face,
a trajectória ideal das mãos é a entrega...
afastei as rugas do rosto para ter um sorriso limpo.

Silêncio! Silêncio!
São mãos que nunca se dão.

A exactidão dos limites é a imprecisão dos dedos que os desenham. Fecho a porta e espreito pela janela, estás longe de tudo o que queria perto, estás aqui. A perene sensação de fraqueza, imprudente falha no sistema linear desta vida. Empurro o vagão contra as paredes e deixo que se abata tudo. Quero lá saber! O mundo é tão pequeno...

Dá-se tudo agora mas já não se dão as mãos
e quanto mais se tenta dar
mais se perde tudo
na vagarosa e irrequieta mania de se querer
sempre mais.

No silêncio fica escondido o dar das mãos,
remoto fechar do túmulo da desilusão.
Escondo-me em ti.
Fico por aqui.


... resta-me o dar das mãos.


A pele que é pele nunca esquece o toque, o toque que é toque nunca deixa que se esqueça a pele, pele na pele, dar de mãos, o resto passa por nós agitando bandeiras brancas em sinal de paz, a minha voz fugiu.




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