AURA EXTENSA
Data 16/04/2018 16:33:24 | Tópico: Poemas
| AURA EXTENSA (sextilhas)
Estender-se no que se tem Faz um homem maior do que é -- Quer lança que estica além O braço e mais longe até; Ou alavanca que, com fé, Movesse o mundo também.
Assim, n'aquilo que se usa Todo ser s'estende todo: É cheiro que impregna a blusa; É calor em pleno denodo A arder em torno, de modo Que a aura nas armas inclusa!
Como se a pessoal energia Em vibrações oscilantes S'expandisse, todavia, Pelas coisas circunstantes Para além do que eram antes Pois pessoais em demasia.
Visto demasiado humanas As coisas depois de usadas: Se a princípio mundanas, Pelo corpo desgastadas São enfim humanizadas À luz d'auras soberanas.
É chamado de "aura extensa" Este estender-se do ser Nas coisas a que dispensa Um extremado prazer Ou as agruras do afazer Por sobre a matéria densa.
O imaterial na matéria Como restos da existência, Sua opulência e miséria Confessa na permanência Uma presença na ausência Durante a ação deletéria.
E a vida que ali resiste Depois que a vida se deixa É a memória que insiste, Indiferente da queixa Que em meio às flores enfeixa Lamúrias d'um luto triste.
É a verdade da vida Que se nega ao vão d'Olvido! É, talvez, a despedida N'um detalhe percebido Pelo coração partido Diante de sua partida.
É a luz que permanece Depois que o sol já se pôs. E, pouco a pouco, anoitece Nos versos que se compôs Quando -- filhos, pais, avôs... -- O homem dos homens esquece.
É, enfim, tudo que se haura Expresso em luz e revolta, Enquanto a mente desaura N'um clarão à sua volta O ser que de si se solta Quão extensa for sua aura...
Betim - 16 04 2018
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