E de mim as mãos e as vagas

Data 28/03/2008 15:50:09 | Tópico: Poemas -> Amor

A luneta
O livro aberto nesta página escrita na cor felina de alabastro.
De Minerva as harpas e as rebecas
e as líricas obsessivas de todos os poetas
…à tua espera.

Sobre a mesa a lente inversa e as palavras -
um laço brando de espigas,
lupa reflexa na reprodução e no encalço do beijo
do desejo
…o desejo dissimulado, fugidio,
em fuligem sempre intensa dum cigarro.

Viajo mansa no riacho indecoroso da distância.
Viajo louca na fome de te beijar a tua boca
quando nossos olhos solitários
repousam a flor nova
da buganvília
da acácia.
Olho-te de frente o rosto. Desfaço-me
em ternuras mal contidas. Beijo-te em delírio cada sulco,
cada marca d’agua, uma a uma, de todas as tuas fintas rugas.
[amar-te assim, é morrer cada minuto mais e mais, dentro de mim...]

Afago-te a alma em voos de borboletas debutantes
no mimo antigo de ti reconhecido.
Repousas calmo,
deleitado no colo inconclusivo,
magnetizador compasso de um pêndulo sem tempo,
calma maior que sabes encontrar nas lajes planas
de mim, ninfa de teu mar,
a escorrer-se solta em teu porto de tardes calmas.

E de mim agora as mãos e as vagas
e o vento ao teu redor, em abraços tão prenhes de sal e dor…
E de ti a luta e o suor,
de negar de nós a força centrifuga do amor.



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