
CORDEL DA LUA DE SANGUE E DO SOL ENCARNADO / Primeira Parte: AO POENTE
Data 10/06/2018 15:51:49 | Tópico: Poemas
| CORDEL DA LUA DE SANGUE E DO SOL
Primeira Parte: Desde o tempo dos antigos Estes dois arqui-inimigos Veem-se às vezes face a face. Tinham os olhos sangrando Ao longo de longo impasse, Soltando, sem que findasse, Faíscas de quando em quando...
Era o sol em agonia. Era a lua em pleno dia. Era ele o sol encarnado. Era ela a lua de sangue!... Eram os dois lado a lado: Ele, rubro e envergonhado; Ela, 'inda pálida e exangue.
O sol, ferido ao declínio, Um firmamento sanguíneo Deixa após si n'Ocidente. Já a lua, vespertina, Surgia em quarto crescente, A luzir quase ao poente Face ao sol e sua sina.
Como acontece há milênios Pelos celestes proscênios, Sucedia a lua ao sol. D'esta feita, todavia, Depois do rubro arrebol Passando à cheia (um farol!) Diversa se prometia...
Segundo efemeridades, Estas astrais potestades Transitam bem regulares Quando vistas cá da Terra: Têm das luzes estelares Certas datas e lugares, Que cada eclipse encerra.
N'aquela noite, portanto, Para universal espanto Mais um eclipse lunar Estava escrito no quadro: Havia-de se ocultar A lua, até s'escutar Mais alto de cães o ladro.
Com efeito, a lua cheia Às imensidões clareia Enluarando a cordilheira! Pois, finda a fase crescente, A lua se mostra inteira E domina companheira A noite resplandecente.
Pouco a pouco, todavia, A sombra da Terra havia- De lhe ocultar toda a face. E o luar obscurecido Avermelha-se fugace, Tornando-se ao desenlace Rubra qual sangue vertido!...
* * *
|
|