
CORDEL DA LUA DE SANGUE E DO SOL ENCARNADO / Quarta Parte: O SOL ENCARNADO
Data 12/06/2018 15:17:26 | Tópico: Poemas
| Quarta Parte: O SOL ENCARNADO
Cor de carne em chaga viva, O sol a morrer reaviva A beleza aos olhos meus. Eu, embora embevecido, Reflito que existe Deus Diante de prodígios Seus Como o sol entardecido.
Sim, se há Deus é na beleza Do esplendor da Natureza E em nossos olhos a vê-la. O mais, é vontade humana De ver na encarnada estrela Mais do que uma coisa bela Outro deus no qual s’engana...
Ou pior, cego à maravilha D’ela faz outra partilha Que confirma as Escrituras... E, arvorando-se profeta, Com tenebrosas figuras Exorta às demais criaturas A vida que acha correta.
Entrementes, ele mesmo Vocifera ideias a esmo Sem mover seu próprio jugo! Fala em nome do Senhor, Mas não passa de refugo: Se d’outros juiz e verdugo De si grande absolvedor...
Se há Deus é porque no céu O sol despede-se fiel A cada dia que passa. E vê-lo partir traz paz, Maravilhamento e graça Mesmo qu'ele nada faça Além de pôr-se lilás.
E depois, lento desdouro Como se perdesse o tesouro Que espalhou no firmamento. Mas, enquanto empalidece, Um céu de melancolia: Anoitecendo em poesia, Uma hora azul oferece...
Mas se há Deus é simplesmente Por estar aqui presente O mundo inteiro comigo. Não entendo santidade Obcecada co'o perigo De cair frente ao inimigo, Que também Humanidade.
Os conflitos são História, Onde até grande vitória Logo passa por derrota: Quem é um vencedor hoje Nem será digno de nota Se logo em terra remota Amanhã ou depois foge...
Se há Deus é que estou vivo E, nem humilde nem altivo, Eu me ponho em frente ao sol. E, até o vir encarnado S'espalhar pelo arrebol, Paro para o pôr-do-sol, Sem já futuro ou passado.
|
|