
De Estofadores e Sapateiros
Data 14/07/2018 06:37:51 | Tópico: Poemas
| És a mão com meios dedos que faz inveja à serrelharia. Já não há para ti segredos, dias quedos, como se faria
isso que fazes; com ledos e tristes acertos e erros, fia o desafio da trama. Enredos cheios de rugas, dia-a-dia.
És uma mão cheia de cortes, de acrescentos criados a sós orando por melhores sortes, por um lugar distinto para foz.
E a cada cabo mais fortes, sem tormentas, cascas de noz, ficam os meios-dedos. Nortes? para os que cá vivem sem voz.
Mas de que vale essa mão, se o futuro tudo consome? E as rugas e o engenho, então? Basta um botão que os tome?
Quem carregará nesse botão; ele não se cansa, ou passa fome! Pão, não! Nada sabe da missão, apenas uma: acende-se e some.
Segue cego um somatório certo, sabe muito mais do que sente. Igual, menos no longe e no perto, mas fica em aberto que o tente.
Tentará fazer e desfazer coberto de remorsos, como faz a gente? E orgulho, verá beleza num deserto, terá ideias suas na sua mente?
És mão, criatura digital de natura, aperfeiçoada por íntima selecção. Que o próprio fim crias na procura de mais e mais tens, a extinção.
Animal extinto, nada sempre dura, mas lembra-te que está nessa mão, olha-a, mudar para uma mão futura. Dar as cartas para a nova geração...
|
|