
Coração insensível
Data 12/10/2018 23:58:13 | Tópico: Poemas -> Desilusão
| Ela caminhava lindamente pelo pátio da universidade Parecia uma deusa revestida de humanidade a desfilar pela terra Seus olhos encantadores realçavam sua beleza E seu sorriso era muito sedutor. Esplendidamente bela ela caminhava sem pressa E sorria como se o mundo a pertencesse. Parecia não ter medo de nada E carregava consigo a magia do amor verdadeiro. Era bela como uma sereia e desfilava sorridente pelos corredores Sob os olhares de toda aquela gente. Meu coração bateu mais forte Ao desejar o seu amor. Mas como fazer para conquistar aquele coração? A única saída era arriscar-me uma aproximação e deixar acontecer O que o destino havia nos reservado. Não sei dizer ao certo se foram minhas palavras poéticas Ou meu jeito tímido na abordagem Mas seus olhos brilharam para mim e quis descobrir seu coração. Um encontro foi marcado e o amor poderia acontecer.
Uma tarde de amor inesquecível nos braços daquela deusa E meu coração não batia, corria loucamente. Sua pele suave e perfumada Sua voz tão delicada e sensual falando aos meus ouvidos Palavras de amor e obscenidades Causaram em mim a sensação maravilhosa do êxtase. A taça de vinho, os beijos de sedução, os gemidos de prazer Uma tarde perfeita para nunca esquecer. Uma deusa perfeita para amar e na minha mente a grande pergunta: Seria ela meu grande e verdadeiro amor Que procurei a minha vida toda?
À noite o nosso encontro foi no calçadão da Praça Barão Ao som de uma boa música ao vivo, chopp e sorrisos. Ela linda em uma alegria contagiante E eu a deslumbrar toda aquela euforia. O mundo nos pertencia E não precisava de mais nada para ser melhor. Meu coração radiante com aquela beldade a minha frente E meus pensamentos a voar em seus sonhos. O amor, finalmente havia sorrido para mim.
Uma senhora não muito velha caminhava tristemente pela praça Duas crianças a tiracolo pareciam desnutridas e com fome. Do meu local eu observava seus movimentos E interpelações aos transeuntes ao pedir-lhes alguma moeda. Por um instante meus pensamentos foram até aquela senhora Por que estaria naquele sofrimento? Ela atravessou a rua e veio em nossa direção Eu a acompanhava com meu olhar e ela chegou perto da nossa mesa Não tive tempo de falar nada e só observei Aquela garota ali comigo foi abordada pela senhora com as crianças Olhou para elas Por um instante eu pude notar a indiferença e o desdém Engoli em seco quando ela chamou o garçom e pediu para que as afastassem dali. Seu sorriso se fora Seu olhar era desprezível E seu coração fora revelado. Em mim a sensação de surpresa e decepção. Como uma moça tão linda como aquela Poderia ser tão insensível ao sofrimento humano? E todo o amor e admiração que sentia por ela acabou em cinzas. Em mim já não havia o desejo de estar com ela Seus sorrisos agora me causavam angústia e eu só queria ir embora. A sua beleza exterior fora sucumbida pela sua alma insensível E meu amor por ela morreu naquela noite.
Em meu silêncio e em meio às lágrimas Vejo o olhar daquelas crianças com fome E a insensatez do coração humano. Lembro-me, então, de ter me levantado Com educação perguntei o que desejavam - Moço, tenho fome e minhas filhas também. E, mesmo sabendo que era muito pouco a se fazer, Dei-lhes, naquela noite, o alimento que precisava. Minha alma chora neste silêncio A ilusão de mais uma decepção com as pessoas desumanas Que habitam entre nós. No celular as mensagens e ligações De alguém que nunca mais atenderei…
Poema: Odair José, o Poeta Cacerense www.odairpoetacacerense.blogspot.com
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