Alienação do tempo descrito
Data 02/11/2018 16:19:32 | Tópico: Textos -> Surrealistas
| esperávamos um mandamento de respeito. Algo como a voz, replicada em sonoras ondas de eternidade, que saísse de dentro daquela casa que, decrépita, se preparava para morrer. Diziam que era ali que entravam homens sem alma, e saíam profissões de fé transformadas em alvoradas sem cor. Só deixando para trás um odor a terra queimada, sinónimo de maternidade hermafrodita. Líamos a razão, apenas com os olhos fechados e em lágrimas. Falava-se no milagre sem cor. Que a criação seria recriada aos poucos, sem fantasia. Disposta a ouvir as pessoas no sono e na alvorada. Independentemente de credos, raças, ou segregações sexuais declaradas. Efusivamente anunciado, o tempo parecia ter recomeçado. Em ti eu achava o protocolo certo de estar vivo. Ouvindo salmos de anúncios sem voz, a rescisão da divisão entre o real e o passado, a frase escrita, e dita. Precisávamos de uma razão para continuar a respirar. E encontrámo-la nas danças alienantes da névoa da manhã, que bailava estranhos encantamentos hermenêuticos em nosso redor, pedindo a madrugada. Talvez tudo fosse o necessário para que cada minuto se passasse como nunca havia sido o anterior, e nunca poderiam ser os restantes que estivessem para vir.
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