A Cura

Data 03/11/2018 22:35:42 | Tópico: Poemas -> Amor


A Cura

A poesia é a cura
do mal que aflige a minha cabeça,
e esta dor que me censura
é o que a poesia faz com que eu esqueça.

O certo é que o absurdo pondera
nas formas que trazem no peito
as lágrimas que escorrem assustadas,
são as que ensopam meu pior defeito.

Com o infinito social aos pedaços,
eu os retrato. Oh! doentia paixão,
recortando a poesia passo a passo,
assim como retalhado está o meu coração.

Em oceano profundo, imensos abismos,
areias de sangue de um sepulcro divino,
a poesia navega sobre este destino,
nas águas de horríveis organismos.

Salta-me aos olhos
este grande pudor ufano,
este farol que ofusca e fode,
é este teu olhar podre e desumano.

Se por certo a poesia é a minha cura,
por fazer com que eu veja no passado
o que quer que a m’alma procura
é um futuro que não quero ver desenhado.

Se a poesia faz com que a dor desapareça,
foda-se se é certo ou errado,
pois há um provérbio antigo que diz:
antes que o mal cresça,
corte a cabeça
das ideias que nos querem como gado marcado.

Havia na podridão de tudo um pouco,
em um mar de fogo
reverberando em teu rosto estalos,
em luzes ofuscantes...
era uma fileira infinita de carros,
todos parados e enferrujados —
símbolo dos desavergonhados governantes.

Alexandre Montalvan



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