DECRÉPITO
Data 02/01/2019 21:27:02 | Tópico: Poemas
| todas as sextas feiras vestia branco; branco imaculado, até as meias. Alvo dos olhares dos que ao largo passavam e não entendiam.
Apenas um velho que lá ficava, inerte, insólita figura, sentado inadvertidamente à beira mar; de pernas cruzadas em padmasana.
Brancura nos cabelos encaracolados sacudidos ao sabor do vento. Branco algodão como as espumas chegadas nas cristas brandas das ondas; marolas que lambiam, e lambiam, sonolentamente a fina areia.
Havia um emaranhado de pensamentos que o fazia sorrir insistentemente, até ao inexistente hilário; cantava e gargalhava de braços erguidos saudando os céus, e inclinando-se, reverenciando o mar. Seu corpo era pluma, alma, parecia levitar. Com as mãos em concha areava o rosto parecendo oferecer-se ao imaginário...
A densa neblina treva não o impedia de sorrir; sorria, sorria, e agradecia... Bom dia meu dia! Bom dia!, com aquele olhar disperso como se nada via. Era sábio; sabia manipular os sonhos... O tempo o ensinara não precisar ver. Sentia pelo som quando era poesia, ou era mar com a mesma e velha cantoria.
|
|