
Enternecer
Data 08/02/2019 12:20:53 | Tópico: Poemas
| Onde está a tua doçura? Ficou guardada em alguma gaveta da tua alma? Ficou esquecida em alguma esquina do caminho? Carinho meu, que tantas vezes me afagaste o cabelo... A cabeça passou a ditar os rumos da tua aventura? E os romances? E as trilhas que levavam à Roma? Perderam-se nas catacumbas cheias de caveiras e esqueletos? Para onde foram tuas bochechas gordas? Teu sorriso-menina? Teu coração virou pedra? Destas que dizem dormir tão bem, mas não sonhar? A vida te acinzentou nos pretos-brancos dos tantos textos-livros que tens lido? E a música? E Caetano? E o amor, minha princesa, art-nouveau da natureza? Deixaste de gerar o sonho? Passaste a degenerar a esperança? Pois tudo que era voo perdeu asa. Tudo que era brisa virou tufão. O toque não mais acaricia, empurra. O beijo não mais emociona, entristece. Nada mais enterneceste desde a manhã em que perdeste a inocência. Que sonho mau roubou-te a inspiração de ser doce? A vida precisa ser tão dura? A cruz e o fio dessa navalha são tão afiados assim? Passado e futuro desapareceram? Estamos presos num eterno presente destituído de qualquer beleza? Taí meu investimento. Taí meus cinquenta reais. E quanto será que valem meu coração, minha verve, minha presença? Pelo jeito nada. Perfeito! Já que nada a dever é tudo que conta, não é?
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