Data 25/04/2019 00:06:37 | Tópico: Prosas Poéticas
Renovando a Carteira de Identidade surgiram duas perguntas inusitadas: -Tem alguma cicatriz ou tatuagem? Tatto não, falta coragem até para tirar uma lasca no dedo, mas cicatrizes tenho várias, invisíveis... Visíveis foram os traços de dor e do trauma quando lembrei da cicatriz do braço esquerdo. -Tenho essa no braço. Aqueles olhares invasivos pareciam me despir e os comentários subverteram minha autoestima. Defeito, erro médico, deficiência. Sair bem na foto do RG deixou de ser minha preocupação naquela hora. Tatuagens, cicatrizes e sequelas de fraturas explicitam nossa identidade? Como esses elementos constitutivos serão exibidos no RG? -Sou apta para o trabalho, não recebo benefício da previdência. Sou considerada deficiente física? Nos concursos devo concorrer a essas vagas especiais? O funcionário respondeu que sim, para ele era óbvio o que não consegui internalizar daquele momento até hoje. Naquela noite minha mãe fez seu papel preferido de advogada de acusação e a mesma deu o veredito. -Culpada. A culpa foi sua. A cicatriz não está em sua testa, poderia ter omitido. Você falou da cicatriz porque quis. Contei serpentezinhas até adormecer. Sonho ou simulacro? Revivi a cena da tarde, recobri a carne e a verdade, no final sorri cinicamente e acenei um adeus com meu braço de radiola!
RG: Carteira de Identidade Braço de radiola(cúbito varo): complicação de cirurgia ortopédica de cotovelo e úmero, sequela frequente de fratura supra condiliana do úmero.