AINDA SOBRE O PORTE DE ARMAS - Uma Lição de Vida

Data 26/05/2019 19:31:08 | Tópico: Crónicas



Meu pai voltou da guerra, casou com minha mãe, que ficou 9 anos esperando, noiva, o dia do casamento. Tiveram 11 filhos - 6 mulheres e 5 homens - graças a Deus, felizes, unidos e bem educados.

Lembro bem daquele dia. Eu tinha apenas 7 anos e meus irmãos uma escada de idades, desde os 2 aos 18 anos. Meu pai nos chamou a todos e, com ar solene, desembrulhou um objeto que estava guardado enrolado cuidadosamente em um pano, dentro de uma caixa de papelão, bem escondido dos filhos.

Olhei para aquele objeto e, mesmo sem saber o que era, senti um arrepio no corpo e na alma. Meu pai, então, nos disse, ensinando como sempre nos ensinava sobre coisas mais simples e também sobre assuntos mais pesados:

- "Filhos, já está na hora de vocês conhecerem um pouco mais sobre o mundo lá fora (fora da segurança da família). Graças a Deus, nós somos uma família abençoada, e vocês vivem num paraíso, sem saber das tristezas e dos horrores que existem na vida".

-"Mas, é preciso que saibam mais sobre a vida do seu pai, que lutou na guerra mundial, como soldado"-.

-"Isto aqui, crianças, é um revólver".

Imediatamente, perguntamos para que servia um revólver.

Com uma certa tristeza e cuidado, ele respondeu:

-"É uma arma de matar pessoas. Como soldado, usei ele na guerra, para me defender e para defender minha companhia dos ataques dos soldados inimigos. Hoje, quero que vocês conheçam essa arma, porque não é só nas guerras que as armas são usadas para matar. No dia-a-dia, existem pessoas más, que usam armas para matar outras pessoas, por vários motivos: por dinheiro, por drogas, por raiva, simplesmente....quero que vocês olhem bem, e jamais usem uma dessas em suas vidas, em momento nenhum. E que vocês não precisem nunca estar no meio de uma guerra, como eu fui".

-"Este revólver estava escondido até agora, e escondido vai ficar. Porque proíbo qualquer um de vocês voltarem a vê-lo, nem para brincar.Muitas brincadeiras acabam em morte, que, depois que acontece, nada pode ser feito para voltar atrás."

Depois desses ensinamentos e conselhos, meu pai voltou a guardar - esconder - aquela arma arrepiante, que me deixou com verdadeiro ódio do mundo e das pessoas que matam por matar.

Meu pai nunca mais pegou nas mãos esta arma, mas escondeu bem escondido, tanto de nós como de si mesmo.

Mais tarde, foi convidado para ser Delegado de Polícia na cidade de Cândido Godói, e negou, dizendo que jamais, em sua vida, teria em suas mãos um revólver ou qualquer outra arma, mesmo que fosse apenas para ameaçar alguém. Como Delegado, teria que fazer uso de arma, e realmente, seu coração, sua mente e espírito se negaram determinantemente a lembrar um passado como soldado, que queria esquecer. Não esqueceu o soldado que foi defender seu país e os países livres, mas levou o tempo de sua vida para esquecer o soldado que teve de matar para se defender.... tendo, um dia, aprendido, como criança, da boca de sua mãe, que, na Terra, todos somos irmãos e filhos de Deus.

Desde criança, até o momento atual, sempre odiei e tive verdadeiro pavor de qualquer arma nas mãos de pessoas inescrupulosas e sem nenhum princípio cristão, apesar de defender a sua legalidade nas mãos de quem precisa se defender de crimes hediondos contra a família e os seres amados.

Saleti Hartmann
Professora e Poeta
Cândido Godói-RS


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