São desígnios

Data 07/04/2008 08:18:02 | Tópico: Poemas -> Sombrios

São desígnios os versos enroscados que me tecem
neste fiar d’alma a cada tarde derradeira,
a cada noite pálida.
Vida d’ ínfima formiga que carrega esquálida,
em dorso,
o esforço do carreiro.

D’onde provem a massa cilíndrica que m’atropela,
o chumbo perdido que faz da pele um crivo
uma peneira?
Não sei! Esgueiro-me a custo, órfão, cristalina.

Ferida, rastejo pélvica na savana,
bebo do bafo quente, do magma da terra,
do lodo que escorrega rançoso da ladeira.

Na fuga que me revela assim, tão ímpia, tão frágil,
nítrica e de asa quebrada,
enleio-me em punhados de sombras,
mordo ortigas bravas, madrigais de espigas,
e nelas, quiçá, o ópio de papoilas rubras.

Macero se adormeço por dentro da alma das palavras,
na rendição súbdita,
súbita,
exauta,
sem coito e sem guarida.

Tombo agora
bonomia d’ assimetria insondável,
sendo metade de mim e só em ti mulher inteira.




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