Indigno eu
Data 13/09/2019 10:58:07 | Tópico: Poemas
|
Escritor mecânico e doente, incurável monstro, Indigno eu, organismo morto, sem paladar Ou gosto, aroma sequer, eu- vulgar sol-posto, Com talento apenas de brisa indolente, inimputável
Tal qual roupa suja de sangue fresco sob uma laje De cimento seco, indigno eu perante gente ou Acontecimento e na indelicadeza de não pensar Neles, a insaciabilidade de um cão vadio, sujas cores
Numa cabana sem "backyard", escrevo sem esforço Entre as quatro tábuas de um mero quintal e ainda Digo que me perdi, de mim para mim e sempre com Mau discurso, num Catalão que ninguém fala, nem eu
Mesmo entendo, perguntando as horas, 19"maybe-less". Se me manifesto pela saliva do nariz, Salvo a consciência, Perco-me no que digo, na memória e na forragem do umbigo, A trajectória não tem leme, vagão ou rumo,
Escrevo "por-bem-dizer" o que conluio ser uma tela De superfícies cavas, expressando o que é a face humana E manuscrita, não falando daqueles que não têm Remédio comigo. Os dias grandes não costumam repetir-se,
É um facto, cabe a mim situar-me no melhor lugar E pensar diferente e cada minuto de dia, na galeria, Na plateia ou no balcão, para que esta pareça uma outra peça, Sem me sentir prisioneiro do teatro,
Posso sempre sair para a praça, Jogar matraquilhos Ou assistir da bancada ao clube da terra, Enormes são os dias que não se repetem, nem mesmo Eu, repito-me escrevendo, concluí que sou um viciado
Em rotinas pequenas, pequenos são os meus dias e a rotina, Escrevo o que ninguém escuta eu dizer falando, Sou que eu digo, do umbigo e em roda dele, Situo-o no meio-dia e eu em órbita do nariz, na saliva
Desvalorizada, vulgar, parda vida em que vivo Sem me fazer ouvir, enviesada …
Jorge Santos 09/2019 http://namastibetpoems.blogspot.com
|
|