"A Quinta da Azenha"

Data 12/09/2019 12:08:01 | Tópico: Contos


O Rapaz, desenho de Carlos Santos









" A Quinta da Azenha" é um conto integrado em "Um Passo Mais" do qual fazem parte mais dois contos, "Olá Já Encontraste o Amor" e "Quem Abre o Coração No Luso Poemas". Foi o primeiro conto escrito pelo Alberto e data de dois mil e nove, revisto mais tarde.


Dedico este texto à nossa querida e saudosa Volena.
Estejas onde estiveres, que os anjos te cantem
para a eternidade.











Elas e eles não passavam sem atribuírem o sucesso a Deus e o insucesso ao destino que seria segundo eles e elas qualquer coisa do diabo, assim como não passavam sem a santa missa de domingo, tal como agradecer aos santos expostos na igreja matriz e capelas daquela terra desaparecida no tempo. O domingo era dia santo para uns, um dia desigual para outros, um dia comum incomum para todos os temerosos e corajosos daquela terra. À hora da missa normalmente eu enganava a minha avó sem querer nem dever por não saber e passava boa parte daquele tempo a satisfazer os meus olhos curiosos na Rosinha dos Canecos como um bom malandro gastando a moeda que me havia sido dada para doar como dízimo durante o peditório pouco antes da cerimónia da tomada do senhor. A Rosinha dos canecos era uma pequeníssima taberna por onde passavam todos os anjos traquinas como eu interessados nas gloseimas piões e papeis vitória que eram os cromos da época além de todos os bêbados da terra, ferrinhos que lá iam como se fossem ao médico.


Naquela terra elas e eles levantavam-se cedo, levantavam-se normalmente ao cantar do galo e logo começavam a mexer na vida com uma coragem cósmica fazendo-a acontecer como quem dá à luz consciente da importância da pontualidade mexendo numa parte do destino deixando a outra nas mãos de Deus, sempre prontos a enfrentar os desafios que se lhes apresentavam naturalmente com um sorriso no rosto ou com ele escondido ainda com vestígios do cansaço do dia anterior.


Aquele que agora lembro era um lugar de gente simples humilde e muito religioso. Era um lugar de mulheres e homens de cabelos pretos castanhos ruivos e doirados, de filhas e filhos de uma pátria à época com regras e leis apertadas, muito apertadas, composto de dias severos e lágrimas suficientes para encher muitos mares, era um lugar de caminhos estreitos e sinistros de cortar a respiração. Era um lugar misterioso, mistérios que eu desconhecia por ter pouca idade. Naquela altura era demasiado novo e livre das insónias do mundo.


Elas, de cabelos curtos e compridos, enrolados em puxos ou simplesmente amarrados atrás da cabeça habitualmente coberta por um lenço escuro, à exceção dos domingos, dias em que algumas usavam misses normalmente feitas de véspera para se apresentarem convenientemente diante o pároco e a todos quantos frequentavam a missa de domingo e feriados que eram normalmente dias de festa em homenagem aos santos preenchidos de cantares e dançares da terra.


Havia um imenso respeito pelas coisas do outro mundo, nomeadamente pelos santos, respeito religiosamente cumprido por todos, como faziam questão de sublinhar sempre que se proporcionava ou fosse preciso uma cara séria. Durante a semana elas e eles não ligavam nenhuma a vaidades e faziam anormalmente uma cara séria do segundo ao primeiro dia da semana. E com a mesma cara séria enfrentavam cada dia de trabalho abençoado e mediador onde tudo se podia esquecer e lembrar e tudo o que se pode imaginar pode acontecer.


Elas e eles partilhavam as tarefas do campo dia a dia sol a sol durante as quatro estações do ano. Cedo as achas de madeira armazenada durante o verão começam arder nos fogões de ferro queimado onde aqueciam o café e o leite e as sopas de cavalo, proibidas a nós por não termos ainda idade suficiente. Curioso é que o leite de vaca que bebíamos chegava todos os dias pontualmente pela calada da noite já quase de madrugada entregue porta a porta pela mão duma leiteira num atendimento atencioso e personalizado. A leiteira chegava calada e partia calada como todos os filhos e filhas daquela terra de identidade muito própria de fragrâncias intensas e nuances silvestres.


Naquele tempo e para aquelas gentes a palavra era um bem sagrado, um hábito já pouco comum nos dias de hoje, um princípio transmitido aos mais novos pelos mais velhos com firmeza para afastar preocupações indesejáveis e algumas dores de cabeça que poderiam quiçá ser fatais empreendendo noites e noites sem pregar olho escutando o latir do cachorro ou o baruho bizarro dos galos e galinhas entre um ou outro ruído mais ou menos misterioso como o vento.


Inventa-se muitas histórias sobre aquele tempo, mas certo certo é que a leiteira percorreu casa a casa rua a rua toda aldeia de baixo acima de piso lamacento no inverno mergulhada em pó durante o verão sete dias por semana de todos aqueles anos enquanto eu tive pouquíssima idade. Certo certo é que aquele leite fez crescer uma data de filhas e filhos mães e pais avós e avôs daquela nobre terra alheia ao desenvolvimento de um Portugal lívido refém de um único partido injudicioso.


Na época já havia reatores nuleares no estrangeiro mas eu não sabia. Não tinha como, embora devesse ter desconfiado quando eles e elas explodiam durante algum mal-entendido, mas, de fato a pouca idade que se tem às vezes pode salvar-nos e eu na altura nem o nome das coisas sabia.


Em geral eles tinham as costas largas, diziam eles em causa própria. Elas pensavam diferente e com alguma razão, pelo menos eram mais sensíveis e atentas, mas normalmente habituadas ao silencio calavam-se. Não sei se pensavam à defesa, no entanto não se defendiam muito bem e grande parte delas eram realmente de uma sensibilidade especial, não ligavam grande coisa ao físico e privilegiavam a química, penso.


Ainda me deliciam os aromas daquela terra distante de tudo, sobretudo os do espaço de tempo compreendido entre a primavera e o tempo das vindimas em finais de setembro princípios de outubro onde não faltavam recursos naturais e braços humanos, que, é caso para dizer: era uma terra distante de tudo perto do que é bom.


Todos passávamos os dias tristes alegres. Dava normalmente comigo a brincar no meio de uma imensa paisagem natural, predominantemente de cultivo, maravilhosamente verde, livre pensava eu na época sem saber.


Nós os mais novos, entregávamo-nos aos dias em liberdade incondicional, um direito que não existia, mas era-me de todo impossível saber por ter aquela idade. Eles e elas não falavam de muitas coisas às claras, por medo por absurdo que possa parecer, por medo dos mesmos do costume.


A pide denominada policia politica era um punhado de homens instruídos pelo regime de então, a mesma ditadura que levou entre outros ilustres um nobre opositor do regime a Espanha conhecido como o homem sem medo, interveniente activo opositor ao regime, ao modo de vida adoptada fechado ao progresso, homem que o abordava e questionava, de seu nome Humberto Da Silva Delgado, senhor de fortes convicções, homem que eu não conheci, mas que esteve muito perto de fazer ouvir a sua voz ao longe. Soube-o mais tarde num momento esclarecedor pela boca delas e deles, escutando com redobrada atenção e muita admiração.


A policia politica responsável pela segurança do estado totalitário e economicista contra o confronto de ideias e consequente desenvolvimento da sociedade era constituída por um conjunto de subservientes do estado opressivo obsessivo no que à força entre outros diz respeito. Operavam dissimulados à civil entre a multidão explorando e traindo constantemente os interesses coletivos, atropelando muitas vezes os direitos humanos, traindo um povo amigo dos bons costumes, do trabalho e da fraternidade, aqui e ali sonhador do futuro que faltava no presente.


Era um regime problemático bem à imagem de muitos universos, sempre pronto a silenciar quem ousasse pensar diferente do mesmo e falar pelos seus próprios meios.


Inevitavelmente a partir de uma certa altura acabou a brincadeira a tempo inteiro. No meu caso, fui parar à Quinta da Azenha, um externato de professoras exigentes, mas fraternas, a quem chamávamos de irmãzinhas, em geral mulheres boas, mulheres de Deus, na grande maioria irmãs de homens e mulheres a quem dávamos imenso trabalho.


Foi na Quinta da Azenha, mais conhecido por externato Santa Margarida que passei os meus primeiros anos de bata azul naturalmente desatento aprender a ler a escrever e a ser homem. A lua sempre me cativou. A curiosidade e o fascínio pela natureza também nasceram comigo. Digo eu que passei todos aqueles anos ansioso pelas aventuras de verão interrompidas durante os nove messes de cada ano escolar a marrar para sermos alguém, pelo menos era o que elas e eles diziam, e com muita razão, no entanto diziam-no sem qualquer explicação e eu muitas vezes ficava chateado por não compreender porque é que tinha de ficar amarrado, amarrado, entre aspas. Em todo caso seria desnecessário uma explicação vejo-o agora porque não tínhamos meios suficientes de saber o que seria ser alguém, a ignorância pela pouca idade que se tinha não ajudava ninguém a entender muitas das coisas resultantes e constituintes do mundo.


No período das férias grandes antes e depois do mês de praia cumprido religiosamente todos os anos numa praia marítima de sons envolventes segredos e curiosidades marinhas situada na costa verde, conhecida e assinalada no mapa pela graça de Madalena, praia da Madalena, um dos hábitos que eu não prescindia era a boleia que apanhava no carro de bois do Ti Manel Cunha de passagem todo o dia à mesma hora a caminho do campo para mais uma jornada de trabalho árduo. Naqueles tempos não havia coisas fáceis.


Apesar de tudo aproveitávamos a idade que tínhamos como bons brincalhões que éramos, felizes sem saber. Mais tarde constatei que na época toda a região andava para trás como eu de todas as vezes que andava no carro de bois do Ti Manel Cunha por causa do dito regime ditatorial em vigor. Como bons traquinas éramos os melhores e mais vivos além dos mais inocentes, tínhamos bichos carpinteiros mas éramos filhos e filhas, quero crer, exemplares, livres, livres até ao dia em que crescemos.


Em geral nunca saíamos de casa sem uma cara laroca e uma merenda arranjada à medida de cada casa, de cada gosto, normalmente acondicionada num saco de pano bordado à mão, muito bem asseados, passados à lupa por elas, sem dúvida mães e avós dedicadas constantemente em acção.


Ao final da tarde chegávamos mudos e encolhidos, éramos tão frescos quanto aquelas primaveras que se distraem, com olhares curiosos, mas àquela hora calados escondendo a terra que trazíamos agarrada à roupa tal a força da gravidade que a força de gravidade provoca. Chegávamos de mansinho, por vezes assustados com o que pudesse acontecer assim que elas e eles reparassem na camisa e nos calções sujos asseados de outrora. Os joelhos constantemente esmurrados eram da praxe. Nesses momentos o silencio era de um tédio habitual onde a natureza excede sempre o que conseguimos ver ouvir e repito imaginar.


Na praia da Madalena corríamos as rochas costeiras cobertas de moluscos bivalves com uma força na gancheta e alegria que, só visto, quebrada momentaneamente por um ou outro desequilíbrio, provocado pela distração pressa ou facilitismo de quem conhece ou pensa que conhece bem o terreno onde põe os pés, e que nos deixava os joelhos em estado de tarde escandinava.


Ao final do dia e já depois de um banho retemperador tudo se recompunha. Sentíamos o ardume dos cortes nos pés provocados pelos mexilhões aglomerados pelo bisso às pedras pousadas na areia sem nos chatearmos muito com isso. Recordo que o mar era de um azul atlântico quente e super-habitado onde os peixes conviviam diariamente com uma enorme diversidade, desde do plâncton às estrelas, do sargaço aos búzios, das lapas aos mexilhões com a satisfação de quem ainda respira por gosto todo aquele iodo das manhãs guardadas na memória. Apanhávamos polvos com varas e pequenos peixes entre as algas das casas das conchas calcárias meias submersas na água salgada com apenas uma linha um chumbo triangular e dois anzóis, que a minha avó Aurora ao final do dia meia rouca de repetir vezes sem conta durante as nossas aventuras piscatórias paulinho confecionava cozido servido com molho verde, frito com arroz do mesmo bicho, e às vezes no forno, à lagareiro.


Além de meios cegos éramos todos meios surdos, gordos e magros. Sorríamos a maior parte do tempo e o crescimento acontecia diariamente naturalmente sem nos darmos conta disso. A Judite, querida, consumia-se: paulinhooooo... repetia vezes sem conta.


Suponho que já transgredia, mas fazia-o na pior das hipóteses na melhor das intenções. Elas viam-se não raras vezes com as lágrimas nos olhos, ao contrário deles que nunca choravam à vista de quem quer que fosse, talvez por vergonha, embora todos o fizessem às escondidas.


Parece impossível que seja possível ser feliz sem nos darmos conta disso. Diria mesmo que a felicidade acontece quando não pensamos nisso, e que, mais cedo ou mais tarde todos acabamos agarrados aos nossos pequenos e grandes mundos a tentar perceber se estamos de boa saúde, por amor próprio, por ventura necessidade ou; e respeito.


Por volta de uma certa idade comecei a sentir uma enorme vontade de conhecer outros sítios, outros lugares, lugares esses que na minha cabeça seriam quimeras. Tinha uma sede e duas fomes que não me largavam, graças a Deus. Não me lembro ou não é relevante se o tempo me dizia alguma coisa na altura, mas que era de todo desconhecido como eu e o mundo, era. Naturalmente que a fome e a sede de uma fonte em crescimento na medida certa faz cantar uma ou mais primaveras.


Além da amizade afeição e entreajuda que todos partilhavam, bens que nutriam e doavam uns aos outros normalmente, herança deixada de pais para filhos e assim sucessivamente, eu perdia-me e achava-me naquelas imensas paisagens encantatórias, deliciosamente naturais. E embora elas e eles fossem de poucas palavras era realmente um tempo onde a palavra era sagrada, e no entanto, não era definitivamente um tempo de palavras e a manifestação dos afetos só viria a ser revelado alguns anos mais tarde por nós aos nossos filhos.


Por meados do verão quando regressavam os imigrantes da família, as casas enchiam-se de cor e novas sensações eram experimentadas. Elas eles e nós partilhávamos beijos abraços entre sorrisos e um copo de vinho, vedado a nós por sermos ainda novos, em amena cavaqueira. Ouvia histórias divertidas entre um ou outro drama que contavam e que eu não compreendia, não podia, desnecessário é dizer mais uma vez que a idade se tem às vezes... muitas vezes quando elas e eles reflectiam, um silencio deixava o ar ornado de nuvens sem graça, qualquer coisa de corar.


Assim que elas e eles chegavam falavam horas a fio das suas aventuras lá fora. Eu, absorvido pela magia dos chocolates e bombons suíços e franceses comprados em Espanha ouvia-os sem escutar imaginando o paraíso, pensando muitas vezes no que poderia fazer um dia nalguma daquelas cidades longínquas para onde haviam imigrado tão fundamentais ao funcionamento do mundo.


Elas e eles falavam de Paris Geneve Neuchatel, falavam dos locais onde viviam onze meses por ano com um brilhozinho nos olhos, nostálgicos da saudade, entre uma e outra lágrima misturadas com a alegria do retorno... é um cisco: dizia-se quando alguma rolava nalguma face. E porque não, nunca foi proibido deitar água dos olhos.


Nós, os pequenos, como nos chamavam, parecíamo-nos muito com os pássaros intérpretes de uma infância à rédea solta. O único ponto em comum daqueles dias com os de hoje é a possibilidade de sermos felizes em qualquer parte em qualquer lugar a qualquer hora em qualquer idade, haja vontade inocência e propensão para descomplicar que o melhor pode sempre acontecer.


De força falavam eles, habituados às tarefas duras do campo, por vezes tomados de expressões corporais de gravidade, moderada e grave, e nós mordíamos a língua da mesma força e amplitude, era a vida, como orgulhosamente sublinhavam quando alguém lhes apontava as rugas. Tudo mulheres e homens de uma resiliência... sem palavras.


Lembro-me que andava sempre nas nuvens quando íamos aos grandes armazéns do Porto depois do costumeiro passeio a ver as montras sem nenhum motivo aparente puxados pela mão que elas não largavam em situação alguma. Não éramos propriamente uns doces digestivos muito fáceis de aturar. Só ficávamos em pause durante as horas de sono ou enquanto dávamos milho aos pombos da Praça da Liberdade onde ocorriam fenómenos estranhos e que mais uma vez ultrapassava o meu ainda parco entendimento. Por isso ignorava aqueles jornais entregues de mão em mão que levavam aos revolucionários da época, pais mães avós avôs filhas e filhos netos e netas as notícias da resistência contra o regime responsável pelo atraso em vigor. O mais engraçado é que eu já ali ia para ser feliz e nunca havia pensado nisso.


Lá em casa elas e eles não passavam sem o café da Sanzala, situada numa das artérias mais movimentadas no coração do grande Porto, na altura servido em cartuchos de papel mata-borrão. Quando se é bafejado pelos aromas de África nunca mais nos esquecemos da palavra energética coração.


Ao passarmos pelas ruas mais movimentadas da cidade nascia-me subitamente uma fome, era uma fome estranha vinda não sei de onde, mas, não era uma fome como a que normalmente acompanha os comilões para todo o lado que era muito mais fácil de satisfazer, bastava repetir mil vezes ó vó vó tou cá cuma fome... que mais cedo ou mais tarde acabava bem servido e saciado no Embaixador ou no Imperial, muitas vezes no rei dos queijos sito a rua do Bonjardim sempre preocupados com as horas e a conta que acabava sempre no lixo.


Elas e eles lidavam muitas vezes com o que não conheciam ensinando-nos o que sabiam, o que aprenderam com o que herdaram, dando-nos muitas vezes o que podiam e o que não podiam, e quando não podiam mesmo, a culpa era da vida, refém de uma época sem dúvida apertada, submetida às normas vigentes de um poder autoritário que ou se respeitava ou... pelo menos à vista desarmada era proibido desobedecer. Naquele tempo aquela terra fechada não conhecia a quantidade de lâmpadas das nossas cidades de hoje.


Durante as noites inventava-se todo o tipo de lendas e mistérios impressionantes. Contava-se por lá de como homens e mulheres se transformavam em bichos com cabeças esquisitas e que segundo eles e elas tinham de ser picados tal como os bois para retornarem aos seus formatos de homens e mulheres originais. O que mais me incomodava era o barulho dos cães e os semblantes cabisbaixos adiando um monte de felicidades.


Das memórias de um tempo pilar onde cresci, perduram os momentos da terra indexada ao céu, com elas e eles guardados no coração, pelo bem que me fizeram a crescer. Por isso a minha avó não se cansava de dizer menino cuidado com o que fazes e dizes. Eu fazia e dizia quase tudo o que podia porque todos crescemos com aquilo que se pode fazer e dizer e todos precisamos mesmo muito de crescer.


Ainda hoje retenho em mim a música da minha infância, o perfume daquela terra gaiata onde fui feliz. O som das pegas dos gaios dos melros dos pintassilgos das cotovias dos bicos de lacre e tantos tantos outros pássaros que nos rodeavam constantemente naquela terra muito muito muito verde e querida. O Ti Manel Cunha o lavrador do carro dos bois, a cara feia do Ti Adriano da pinha, a Ti Maria de Espinho que tinha remédio para tudo, o Ti Pires, homem esquivo de teatro amador que era uma peça rendido regularmente ao encanto da minha avó, a voz esférica das minhas vizinhas frágeis e tão belas. Guardo ainda na memória todos os nomes próprios dos que comigo presencialmente privaram, queridas aves cantadoras e encantadoras cúmplices da fertilidade murmurando a vida para o mar...

Pois é,…


“A QUINTA DA AZENHA”, Alberto Moreira Ferreira


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