Merendado

Data 22/09/2019 17:18:50 | Tópico: Poemas

Estamos no Outono e nesta época do ano à imagem da miséria na floresta as folhas voam baixinho aos milhões. Eu sou aquele sem amor, sem amor pretensões e sem alma. Sou o morto das distâncias que recuperaria a sua alma acaso soubesse como. Equaciono a morte no maior e mais assustador sossego, e tenho medo, muito, embora menos, muito menos que da neve dos frutos secos. O Outono podia bem ser uma estação romântica, bizarra, uma estação de lilazes, pudesse o amor coexistir com os ossos, mais que a fome, mas o vazio do interior transformou os dias em trombetas com línguas de competição e a alvura foi reduzida à ganância e hipocrisia de braços fechados em busca da glória. Hoje tenho frio, tanto quanto o cigarro abandonado no cinzeiro e não consigo viver. Já não sou um sonho e lamento a emotividade deste coração surdo que preciso ignorar. A vida foi embora com as desilusões e eu estou sozinho, muito sozinho, sem amor e sem interesse, e nada do que faça nesta triste melancolia abismal submisso ao queimor da noite sem influxo me trará o sorriso, como se ainda existisse uma réstia de esperança, de possibilidade, de voltar a acreditar no amor.


Alberto Moreira Ferreira


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