Chamaram o poeta
E de forma muito ofensiva disseram
Você é o poeta da pedra
Pedreiro da pedreira
Da sujeita e verso torto
Poema sem linha
Escrita estruturada a pedregulho
A ofença machucou
Lascou parte do corpo de pedra
Do poeta de pedra
O poeta se entristeceu
Tomou do cálice sua parte
Foi pra casa e versou, escreveu
Conversou com as palavras
E conversando com elas
Cresceu de dentro para o interior
E subiu, foi alto, e viu de cima
Os dinossauros e os vulcões
Os astros e todos os elementos
E descobriu que pedra
É coisa de responsa
Coisa que enclausura o tempo
Sustenta ponte e é banco
Calçada, cerca, lápide, mesa
Guarda memórias sem mostrá-las
Seja na fundura das fossas oceânicas
Ou no infinito do universo
Lá estão, pedras, duras, pensativas
Enfrentando o tempo duro
Do mesmo modo que você Carlos
Sempre em pé diante do verso
Tirando dos olhos pro papel
Preciosas pedras de ferro
Das Minas Gerais