"she she"
Data 08/10/2019 18:41:05 | Tópico: Poemas
| Viver através da sombra o ermo da calvície! As papoilas desfeitas por um triste destino! Ver malmequeres azuis mortos silenciosos Ofertando ramos aos pares às escondidas!
As bocas de invídia embarcadas no verso! A incompreensão em tudo o que o sol faz! Como uma fresca adocicada pelos anéis Que vão ficando nas mãos sem dedos!
Viver as fugas pelas ruínas, pelas rugas! O meu coração sem chamas na cómoda Com gavetas em alumínio branco! Viver Sem amor e carinho à tardinha! A vida!
Ah, se a fotografia falasse... É possível Que tenha adormecido. Que a morte Não envenene e amanhã seja outro dia
Poema de " O Xaile", Alberto Moreira Ferreira
Era uma rosa, uma luz, mas não era uma rosa livre para uma vida saudável de encantar. E tu bebeste-a, e o tempo agora a amarrar a noite não ajuda a libertar. De tanto tempo vivido entre muros e muros perdes-te agora dentro de ti. Tens demasiado tempo de muros na mochila, hectares é muito tempo, tempo demais. O silencio gritante, a morte, incompletude demais, de menos demais, de menos é demais, e descolas. A dado momento só podes descolar ou enlouquecer. Certos pássaros como tu não teem lugar no pior lugar da terra. Mas há valquírias nas águas dessa fuga, e sangue por todo o lado, o vinho da alma que se desfez é agora sangue espalhado obedecendo à morte, sangue perdido por todo o lado, e foges por achar que o mundo é um problema. São mundos que nos fazem isto. Vem a noite vem a morte, o crepúsculo e a solução, uma triste figura de pedra inerte sentada à mesa suspensa na sua miséria a iludir o copo. Aquela rosa é uma flor gigante. Rosa ruiva, ave da raiz à copa, clave de lua moeda de cambio medicinal, rosa tão pura, nunca seria um problema. O problema são os muros recolhidos que ainda infectam. Os muros no bolso da mochila e a pequena porção da alma entretanto conquistada com a descoberta da rosa que te restava arremessada de novo, com mais raiva, mais dor, pela circunstancia, e mais sangue, mais sangue por todo o lado. Agora que estamos os dois sozinhos perdidos de amor e quase-quase desorientados queria perguntar-te... a vertigem de alguma forma termina em angústia ou somos nós que vemos tão mal. A Rosa... que rica maga. Vamos respirar, arrimar a mesa lavar a loiça disparar salvas acender a luz amaciar os dias terrivelmente pesados... (ah Rosa...) Os espasmos hão de passar.
"Concerto, Performance de O Jardim do Morro", in "THEIA", Alberto Moreira Ferreira
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