
AS QUATRO ESTAÇÕES - concerto para quarteto de cordas
Data 13/10/2019 15:25:48 | Tópico: Sonetos
| AS QUATRO ESTAÇÕES - concerto para quarteto de cordas
PRIMAVERA - alegro
É primavera! Enfim sibipirunas D'amarelo a cobrir todo o cimento... O cinza dá lugar por um momento À festa de andorinhas e graúnas.
Mil paixões, mesmo as mais inoportunas, Vêm colorir o olhar de sentimento Como se uma película de alento Preenchesse nas retinas as lacunas!...
O tempo todo fico boquiaberto A ver pelo arvoredo ora desperto O sol dourar as copas nos outeiros.
Qualquer arbusto vão já s'embeleza E em cada canto vê-se uma surpresa Entre floradas, pássaros e cheiros... * * *
VERÃO - vivace
O sol de meu grotão mais se aproxima Por madurar as mangas do quintal. No estio abria as nuvens afinal, Radiando glorioso lá de cima!... Mas chega o bem-te-vi com sua rima E me olha de soslaio no juncal... Dos baixios batuca o pica-pau E algum japim gorjeia pouco acima.
É bom andar na roça após as chuvas A ver logo brotar as águas claras, Ou sabiás catando ao chão saúvas. A fresca traz tucanos mais araras, Que pousam sobre a prata d'embaúvas, Enquanto o sol se põe entre taquaras... * * *
OUTONO - adágio
O cheiro das goiabas pelo chão S'espalha após a enchente derradeira. Súbito, as folhas secas mais a poeira, Redemoinham em forte viração...
Cai a tarde p'ros lados do sertão, Corando terra e céu igual fogueira. Entrementes, pousadas na figueira, Maritacas chilreando n'um capão.
Tomado d'essa vã melancolia, Que a Natura espalha indiferente, Vou contemplando o fim de mais um dia.
E, inobstante pareça decadente, O lusco-fusco calmo transluzia Maturidade plena, finalmente...
* * *
INVERNO - andante
Pelos altos da serra neblinada, Via-se um mar de morros verdejante, Enfrento o forte aclive e, mais adiante, Longo vai-vem de curvas pela estrada.
Nos longes trovejava outra geada E o vento sibilava sempre uivante. Eu paro para olhar meio ofegante Em face da paisagem transtornada.
A tempestade chega, todavia. Antes qu'eu alcançasse valhacouto, Perseverava contra o céu revolto.
Logo forte torrente ali descia: A terra n'um barreiro já s'esgaiva E as nuvens vêm abaixo na saraiva!
Betim - 09 10 2019
|
|