MARASMO
Data 15/10/2019 11:15:00 | Tópico: Poemas
| MARASMO
O tédio te invade, poeta, Nas cinzas do teu cigarro. Teus vagos olhos de esteta Veem a tristeza concreta Nas flores murchas d'um jarro... Escreves senão ao escarro D'uma plateia seleta Que anseia, desinquieta, Tanto o novo que o bizarro A suas vidas sem meta.
Não lamentes as ingratas, Que tão volúveis te afagam. Tampouco o afã de magnatas Que em meio a vãs serenatas D'aguardente s'embriagam... Tuas pegadas se apagam Entre pessoas cordatas, Que a bazofiar bravatas Tonteiam e após t'esmagam Como fazem às baratas!...
As angústias que partilhas Lhes entretêm os serões... Tuas grandes maravilhas Se apequenam nas cartilhas Dos que não têm opiniões. Obscurecem-te os clarões Entre intrigas peralvilhas A buscar senão senões D'estas rudes redondilhas.
Corre os olhos pelas linhas E apura o teu versejar!... Faz d'estas horas sozinhas Mais estrofes comezinhas Para alheios embalar... Traz um imenso luar Para as novas carochinhas Que bem ou mal adivinhas Onde as rimas dão lugar A novidades mesquinhas...
Porque se indústria a cultura; As letras, outro mercado. Nega essa tua loucura A quem decerto assegura D'ela fazer um legado... Pois, nem certo nem errado, 'Inda vives à procura Do que sublime figura: tanto marasmo extremado Faça-se Literatura!
Betim - 14 10 2019
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