
Trilogia: Desamparo (1/3)
Data 08/11/2019 21:15:20 | Tópico: Poemas -> Surrealistas
| Sou, sozinho, em desamparo, sou assim qual um proscrito Cheio das surdas vozes e a vida corre como rio impetuoso Não tenho morada, sigo a vagar sem um refúgio a repousar O cão ladra estridente, este não é meu lugar, é da história Silenciei minha voz com um soluço aflitivo e estrangulado Acordo nu, só, meio ao pesadelo das batalhas contra o mal No abandono vivo, que me remete ao tempo que eu morria Ora não posso mais sonhar que a vida, num zéfiro da sorte Viesse, no âmago do dia, redefinir o depois, o além de tudo Na ingênua noção deste poeta sonhador, atordoado e cego Em meio à ilusória placidez, a solidão novamente se assoma Aniquilando as plagas da esperança, a irmã das primaveras Consulto os astros no firmamento, mas não acho respostas Estão todos na mesma irracional, fúnebre e austera mudez Não há um botão que, mágico, faça galhos secos em flores Que faça do ar quente, brisa fresca e dos fantasmas, heróis Não vejo nas auras as cores ideais, tão-só rumores remotos Sinto que sou apenas uma alma solitária no aquário da vida Um homem primitivo perdido entre tão pálidos crepúsculos Que é um quase nada, alguém que restou carente de unção E no grave aspecto da noite, em névoas densas e singulares Que busca alcançar a inatingíveis e fúlgidos altares surreais Finalmente, o dia anuncia que a luz já virá difusa e ingente Hora de ser ardente e jovial e buscar a força numa crença Que dias melhores chegaram para virar a vida inteiramente
O botão de rosa e suas pétalas gráceis e sedosas, multicores se abrem alegres no ar como um ósculo mais breve.
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