Preso em Liberdade: Parte III
Data 03/12/2019 04:13:27 | Tópico: Poemas
| Não é só a mim que eu temo, Temo-me frente aos outros: O que pensarão? Gostarão de mim? Será que corresponderei ao que pensam? E se... e se... não gostarem de mim? Penso, ninguém me conhece, ninguém me entende; No entanto, faço-me entender, conhecer? Não, permaneço fechado, oculto... Impeço e proíbo que me descubram. Posso não ser bom o bastante – se é que existe esse “bom o bastante” – Tudo depende do “para quem”, Do outro, enfim... Sem este, eu não existiria. Não me basto! Quem se basta? Se não houvesse o outro, Para quem escreveria? Quem ler-me-ia? Tu, que me lês, és um dos outros, Um de muitos outros que, em sua simples existência – sejam: mulheres, homens, crianças, animais, coisas; Seres em geral, humanos ou não –, fazem-me ser eu, e não outro: Se sou Humano, e penso, e sinto e..., é porque há outros Seres, Seres Não-Humanos, portanto, que não pensam, não sentem, não... – não pensam, e não sentem, e não... como eu, ou como nós, Humanos –; Deste modo, posso dizer que sou um indivíduo singular, complexo e etc. E só o sou em relação a outros indivíduos também singulares, complexos e etc. Observa: um só é um em relação a dois, a três, a quatro e a... Sem dois, três, quatro e..., um não é um, Não existe um, é algo nulo, vazio, algo-sem-ser (algo que não é, que deixa de ser...), inexistente. Como posso (podemos) temer o outro, Ou a mim (a nós) perante os outros, Se só sou (somos) eu (nós) devido a este, a estes? Os outros nos fazem ser únicos; Fazem de nós nós mesmos, e não coisa diversa.
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