QUE SE DANE!

Data 10/04/2008 21:29:05 | Tópico: Poemas

Sou fadada a morrer um dia?
Que se dane, seja então em poesia
Quero respirar e quando morrer, sem dor
Quero fazer amor em cada esquina
Mas com o recatado ato de menina
Que seja na esquina pura da flor
Quero ser o sol que brilha à primavera
Quero ser os meles escorrendo na janela
Quando atinjo o ápice do amor
Quero ser a cotovia mais dileta
Quero ser bela, com as rugas de aquarela
Quero ser o asco quando vomito a dor
Quero mais é ser bem inconstante
A luzidia mulher que infante
Quero ser a chaga de um Cristo Redentor
Quero ser a morte envolta nesta vida
A pena de oiro que me fez guarida
Quero o roto do rasgado ardor
Quero então ser mais que desvirginada
Sem os pudores que contemplam as fadas
Quero tragar os mares que a nudez marcou
Pois, sim serei a tal da morta-viva
Aqui jazi e me fiz vencida
Pelo amor que forte do meu peito alçou
Brochas e tochas e broquéis silentes
A lua fria e a cama ardente
Serei o cáucaso que o lusco-fusco matou?
A sobriez dos venerados obstáculos
O vômito diário das gestações eu trago
Cada palavra que ao meu dente passou
Sou e não fui e nunca virei a ser
O amor perene, a luz do viver
Aqui eu morro e já não sei quem sou...
Ou viria a ser!


(Ledalge, idos de 2007)





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