Éramos seis

Data 12/04/2008 22:27:10 | Tópico: Textos

É tão amargo todo o sentir, tão imperfeito todo o saber, que nada resta a quem busca conhecer o que de fato existe senão a incompreensão própria. Talvez as mesmas mãos que possuem a descoberta possam também ser os pés dos passos inda inacessíveis. Porque há pés que imploram por luvas e mãos que anseiam sapatos, rostos que só querem ser palavras e eu, que não sei de nada disso. No redemoinho das conclusões necessárias eu me entrego ao meu maior tormento: essa certeza precária de que somos todos iguais. E tanto que eu queria ser apenas eu, tanto que busquei o singular de mim, tanto que fiz para não precisar de espelhos, tanto que amei o ímpar, tanto! E agora isso de receber o impacto de que todas as coisas são apenas coisas. Que desilusão é aprender! Eu canto a temporada que nunca pensei chegar, choro os vendavais que o medo instiga, e para além da dor retroesternal de me sentir viva e inútil vejo que os anjos verdadeiros são estrelas doces que sempre se vão. Sou uma sombra de coisa nenhuma agora, deixe que eu chore a inexistência de tudo, deixe-me sofrer a pior das derrotas: foste devolvido à luz, meu irmão! E nós éramos seis, anjo! Seis!





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na calma triste em que viveste,
nós te amamos.
na timidez solícita em que amaste,
nós te vivemos.
no silêncio fecundo em que ensinaste,
nós te aprendemos.
na sábia serenidade em que partiste,
nós te perdemos.

por que abandonaste a vida, anjo,
e nos deixaste sem ti?
ou fomos nós que,
sem ti,
ficamos sem ela, anjo?
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