ABOIO DE GENTE

Data 04/04/2020 00:53:11 | Tópico: Sonetos

ABOIO DE GENTE

De manhã, passo em frente à sua casa.
E, desde antes do sol, lá da varanda,
Ele aboiava o povo que à rua anda,
Correndo ao apito quem 'inda se atrasa.

Entoa a voz tangendo a vida rasa
Dos que vão para a fábrica e lhes manda
-- Como se saudação ou ordem branda --
A melopeia que p'los sertões bem aza.

Encontro-o sempre igual: Vermelho e forte,
Seu riso aberto, embora insuspeitadas
Lembranças d'uma tão adversa sorte...

Ele nos tange pelas madrugadas.
E, evocando o sertão, afasta a morte
Sentado sobre as pernas amputadas.

Betim - 19 04 1999


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