CANTO A MIGUEL TORGA, O POETA DA LIBERDADE

Data 13/04/2008 15:04:49 | Tópico: Homenagens

"Universal é o local sem paredes."
Miguel Torga

"A verdade é que na pátria-língua do homem de cultura que Miguel Torga militantemente foi não cabem discriminações de nuclear ou periférica, terra ou mar, dentro ou fora."
Teresa Rita Lopes, poeta portuguesa, na Agenda Comemorativa ao Centenário de Miguel Torga


um metro e setenta e sete
tinha o poeta de altura
o corpo todo magreza
no olhar tristeza tão dura
punha oculta a beleza
nem exibia candura
era assim o doutor adolfo
pr'aqueles que desde cedo
desenhou-se a vida dura
pro mundo foi miguel torga
gênio da literatura

seus hábitos trasmontanos
ele trouxe para o brasil
onde viveu alguns anos
sob os cuidados de um tio
mas atendendo à saudade
da sua aldeia natal
tratou de juntar-se ao povo
sofrido do seu portugal
adotou torga por nome
que é planta do chão agreste
e com a voz inconteste
gritou alto contra a fome
gritou contra a força do mal
gritou contra a ditadura
desafiou o general

no entanto quem o bem canta
não demora perde a razão
o ditador se levanta
dá-lhe o troco com a prisão
aljube tem por destino
e por alimento água e pão
então riu-se todo o burguês
engordou de satisfação
por uns tempos o camponês
ficou longe do seu irmão

ao ser posto em liberdade
mais forte o poeta voltou
cantando a sua verdade
cantando as águas do douro
cantando as coisas da terra
seu canto jamais se calou
nem quando perdeu a guerra
pra morte em câmara lenta
beirando quase os noventa
se mão inimiga apanhou
adolfo correia da rocha
miguel torga continuou
nos olhos de alguma gente
onde cresceu a semente
dos sonhos que sempre sonhou
de um mundo só sem paredes
livre das fomes das sedes
não preso só aos limites
do mapa do seu portugal
um mundo de uma só língua
todos num único
barco
sem comandantes na proa
quer no brasil quer em goa
o mesmo sol o mesmo sal
em angola em moçambique
no timor em cabo-verde
também nos confins de macau
quem sonha não vê distância
tira a capa da arrogância
sonha um sonho universal.

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julio

ps: rezem por mim. submeto-me à uma pequena cirurgia. se não morrer, volto na quinta-feira


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