Textos de Quarentena 33

Data 20/04/2020 22:01:59 | Tópico: Textos

O seu tio era, para além de banqueiro, par do reino, um indivíduo austero e avaro, podia-se dizer que de certa forma tinha a quem sair no que respeita ao feitio e ao trato. Os seus irmãos não eram mais que párias da baixa sociedade, lambe-botas que nada sabiam fazer senão pavonear-se nas clássicas festas de debutantes. A sua mãe, a quem só tratava pela senhora que o pariu, teria sido a única pessoa que lhe deixara alguma herança, uma herança moral, e o gosto pela cultura, graças a ela ouviam-no trautear o Rigoletto quando se passeava pela cidade.
E ela, a menina dos seus olhos, a sua companheira das brincadeiras de infância, a sua confidente de todo o sempre, mantinha-se intocável, ainda a via, ou imaginava, como no último dia em que tinham trocado um sorriso.


Este texto vem de Luso-Poemas
https://www.luso-poemas.net

Pode visualizá-lo seguindo este link:
https://www.luso-poemas.net/modules/news/article.php?storyid=349440