Nenhuma cor

Data 26/05/2020 12:55:49 | Tópico: Poemas

O suposto amanhecer desce em tuas asas,
Traz meu espírito
sobre as casas enevoadas,
E jardins sofridos de ingratidão.
Onde a flores se fecham para o dia,
E mesmo na paleta do pintor,
a pasta de óleo não irradia mais nenhuma cor
no coração aturdido,
que não compreende o seu amor.

Caminho pelas ruas, ainda sem direção,
O vento rebate meus cabelos,
E bem devagar vai me tirando do chão,
Vejo de perto esse mundo que me parecia grande,
Ser, de longe,
Apenas uma redoma pequena,
De onde tu me acena,
Quando fecho os olhos
e me agarro a qualquer coisa, sem vê-la,
Nem senti-la,
Ainda que me prenda ao teu coração.

Nada mais importa,
Nem mesmo a leve pressão da tua alma me machuca,
Mas eu choro de tanta dor
na manhã cinzenta.
Onde os sinais se fecham em magenta,
E o vermelho escorre quando você não está aqui,
Para que eu me renda a tudo que lhe sorri,
Com a paciência que absorve cada dia,
Numa dose extra de sedução;
Como ondas na amplidão dos versos
em que não me deixas te aclamar,
E voo,
Tremulando como as folhas secas do outono,
Perdido no sopor de te amar....

Caio, como as folhas caem levemente no sono,
Por não possuir asas,
e o vento me corta dizendo ao ouvido:
- é hora de dormir!
Teu poema sufocou por um momento
um grito de esperança,
Quando não há ninguém por perto para ouvir.
E o sonho é apenas um buraco aberto,
Onde desabo;
E me acabo, sem fazer nenhum estrondo ou ruído.


Amo-te como se amam certas coisas obscuras, secretamente, entre a sombra e a alma. -Pablo Neruda



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